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Por Redação O Sul | 20 de abril de 2016
A despeito dos indícios de que Ceres, o maior corpo do cinturão principal de asteroides do Sistema Solar – situado entre as órbitas de Marte e Júpiter –, deveria possuir uma família de fragmentos originados de colisões ao longo dos últimos bilhões de anos, até então não tinham sido encontradas pistas que confirmassem essa hipótese.
Agora, contudo, um grupo de pesquisadores da Unesp (Universidade Estadual Paulista) em colaboração com colegas do Southwest Research Institute, dos Estados Unidos, encontrou vestígios de uma possível família antiga dispersa do planeta-anão.
Os pesquisadores identificaram um conjunto de 156 asteroides em uma região primitiva do cinturão principal de asteroides – caracterizada pela baixa densidade de objetos –, cuja taxonomia, cores (classificação) e albedo (quantidade de luz refletida) indicam que podem ser fragmentos de Ceres.
A descoberta foi descrita em um artigo publicado na revista “Monthly Notices of the Royal Astronomical Society”. “Uma possível família deste corpo pode contribuir para entendermos melhor a história do Sistema Solar”, disse o professor Valério Carruba, principal autor do estudo.
De acordo com o pesquisador, enquanto outros asteroides do mesmo tipo espectral (frequências de radiação eletromagnética) de Ceres, como Hygiea e Euphrosyne, já têm famílias reconhecidas, até agora ainda não tinha sido identificado nenhum grupo de asteroides que poderiam ser fragmentos do planeta-anão, que possui 900 quilômetros de diâmetro.
Estima-se, porém, que cerca de 10 crateras com mais de 300 quilômetros de diâmetro podem ter sido formadas em Ceres em razão de colisões com outros objetos ao longo dos últimos 4,5 bilhões de anos. E dados de observação da sonda espacial Dawn, lançada pela Nasa (agência espacial americana) para examinar Ceres e Vesta – o segundo maior corpo do cinturão principal de asteroides –, corroboraram essa estimativa.
Dessa forma, Ceres pode ter expelido um número significativo de fragmentos e formado ao menos duas famílias. Os métodos tradicionais usados para a identificação de famílias de asteroides, entretanto, não detectaram até agora nenhuma. “As técnicas usuais para identificação de famílias de asteroides se concentram em observar objetos vizinhos a Ceres na região central do cinturão principal de asteroides”, explicou Carruba.
Um dos problemas, segundo o pesquisador, é que na região central do cinturão principal há uma concentração maior de asteroides, principalmente do tipo C – o tipo de asteroide mais comum, como Ceres, que tem pouca capacidade de refletir luz, baixa densidade e é associado a regiões mais externas do Sistema Solar.
E há duas grandes famílias de asteroides do mesmo tipo espectral nessa região, a Dora e a Chloris. “Ao realizar um estudo por espectrofotometria astronômica [em que se analisa o espectro da radiação eletromagnética dos objetos observados por telescópios] é difícil saber se esses objetos do tipo C no cinturão principal integram uma possível família de Ceres ou pertencem às famílias dos asteroides Dora e Chloris”, ponderou Carruba.
Além disso, estima-se que as velocidades iniciais de ejeção de Ceres por colisões devem ter sido significativamente maiores que as observadas em qualquer outro corpo no cinturão principal – incluindo Vesta.
Dessa forma, os fragmentos de Ceres podem ter se espalhado por uma área muito maior do cinturão principal de asteroides e seriam significativamente mais distantes entre si do que a distância de objetos formados em colisões de corpos menores que o planeta-anão.