Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 9 de abril de 2023
Instigados por informações falsas de “influencers”, muitos tentam a sorte em Portugal. Lá arriscam tornar-se alvo de trapaceiros, ao procurar moradia ou na regularização de seu status. A Casa do Brasil, que apoia imigrantes brasileiros em Portugal, atende por semana dois a quatro casos de golpes enganosos e indivíduos em situação de precariedade, informa o técnico de atendimento da instituição, Victor Hasten. Atualmente há “entre 60 a 70 atendimentos” por mês de imigrantes necessitados de apoio, seja online ou por telefone.
Os golpes são de dois tipos: os que começam já no país de origem, e os que se desenrolam em Portugal, ao longo do processo de instalação ou de regularização da documentação do imigrante.
“A pessoa que planeja emigrar para Portugal, começa a obter um certo tipo de informações, que usualmente são mais encontráveis no Facebook, nos grupos de brasileiros em Portugal, e aí estreita um contato, pelo que me dizem, com alguém que está nesse grupo. E a burla vem num pacote de serviços”, explicou Hasten à agência de notícias Lusa.
Fraudes
Esse pacote geralmente inclui casa alugada para quando o imigrante chegar a Portugal, e documentos já tratados, como número de identificação fiscal e da Segurança Social. Por esses serviços, o candidato a emigrar paga ainda no Brasil uma quantia razoável a quem alegadamente tratará de tudo e o esperará no aeroporto, na chegada a Portugal.
Na prática, em muitos casos não há ninguém à espera no aeroporto, nem quem contatar. A essa altura, os emigrados já entregaram boa parte de suas poupanças ao falso despachante e “chegam aqui com muito pouco dinheiro”, encontrando-se em “situação de vulnerabilidade”.
Alvo do segundo tipo de golpe são brasileiras e brasileiros que já vivem há algum tempo em Portugal. A fraude pode ocorrer, por exemplo, no aluguel de moradia: logo após pagarem caução de vários meses, sem contrato, as vítimas são despejadas do quarto ou a casa.
Consultas no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) para tratar da documentação de imigração são outra oportunidade para fraudes. Aí, os imigrantes pagam 100 euros ou mais pelo suposto agendamento de uma consulta, e acaba ficando sem o dinheiro e na mesma situação anterior.
Outros trapaceiros oferecem para se ocupar de todo o processo de regularização online, mediante pagamento de determinada quantia. Em vez disso, retêm as credenciais dos imigrantes e passam a chantageá-los com a ameaça de deixá-los em situação irregular perante o SEF.
Desinformação
A atuação de youtubers e influenciadores do Instagram tem se caracterizado como um sério fator de risco, prossegue Victor Hasten: eles vendem “uma falsa ilusão” sobre Portugal, com relatos da sua “experiência pessoal”, convencendo quem pensa em emigrar que “tudo é muito fácil”.
Além de aconselhar os imigrantes a desembarcarem com vistos turísticos, dão até dicas de como enganar os agentes de fronteira, a fim de convencê-los que estão realmente só fazendo turismo.
Sobretudo num momento em que a realidade social é cada vez mais difícil no país, com aluguéis muito altos e uma inflação não acompanhada pelos salários, trata-se de “um movimento social muito preocupante”, que tem deixado os imigrantes “mesmo em vulnerabilidade quando chegam”, pois “só aí entendem que não é nada daquilo que lhe foi vendido”, frisa o técnico.