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Preço da gasolina e do diesel se descola de alta externa do petróleo e tem ligeira queda nos postos

Empresa acelerou compras externas para atender demanda do mercado doméstico. (Foto: Marcello Casal jr/Agência Brasil)

Pouco mais de dois meses após anunciar sua nova política de preços para os combustíveis, a Petrobras vende gasolina e diesel no País com valores cerca de 20% abaixo das cotações internacionais. Dados da Abicom, associação que reúne importadores de combustíveis, apontam que os combustíveis comercializados pela estatal a partir de suas refinarias estão com preços defasados desde meados de maio, quando foi alterada a estratégia comercial da companhia, de forma ininterrupta.

Na quinta-feira (27), o valor da gasolina vendida pela estatal era 23% menor que o preço do combustível no exterior, que segue a cotação internacional do petróleo. No diesel, o movimento é semelhante, com o preço do litro 19% menor. É o maior patamar de defasagem desde outubro do ano passado, quando a estatal segurou reajustes em meio à campanha de reeleição de Jair Bolsonaro.

A atual tabela de preços das refinarias da Petrobras é alvo de críticas de especialistas do setor e analistas do mercado financeiro, que temem um impacto negativo nas contas da estatal, reduzindo sua rentabilidade. Há também o temor de inibição dos importadores, já que o Brasil não produz todo o combustível que consome. No entanto, dados da Petrobras mostram que ela também está aumentando sua importação para garantir o abastecimento.

Desde a criação da nova política de preços, em maio, a Petrobras já reduziu o preço da gasolina três vezes em suas refinarias, passando de R$ 3,18 para R$ 2,52 por litro, uma queda de 20,75%. A distância entre os preços da Petrobras no Brasil e os do exterior se amplia com a valorização do petróleo no mundo. O barril tipo Brent, usado como referência internacional e pela Petrobras, subiu de US$ 74,90 para quase US$ 83 desde o início de julho.

A expectativa é que a cotação continue acima dos US$ 80 nos próximos meses, pressionando ainda mais as contas da estatal, com o menor risco de recessão nos EUA e estímulos econômicos na China, um dos maiores importadores da commodity.

Mudança

A nova política de preços da Petrobras deu fim, em 16 de maio, à chamada política de paridade de importação (PPI), quando variações nas cotações do petróleo e do dólar serviam de parâmetro para reajustes para cima ou para baixo nos valores dos combustíveis vendidos pelas refinarias às distribuidoras.

Já sob a gestão de Jean Paul Prates, escolhido pelo presidente Lula para comandar a Petrobras, a estatal criou uma nova política comercial que leva em conta os custos internos de produção, os preços dos concorrentes em diferentes mercados dentro do país e ainda as parcelas de combustíveis produzidas no país ou compradas no exterior.

No entanto, essa nova metodologia é considerada por analistas complexa e incapaz de dar ao mercado uma previsibilidade sobre os preços da estatal, embora já fosse esperada. Mas a falta de transparência preocupa importadores, que têm dificuldades de prever os preços internos, diz Sergio Araujo, presidente-executivo da Abicom.

Importações

A Petrobras informou que suas importações de gasolina tiveram alta de 642,9% no segundo trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2022, passando de 7 mil barris por dia (Mbpd) para 52 mil Mbpd. No primeiro semestre, o avanço foi de 228,6%. Hoje, a importação representa cerca de 15% do consumo total de gasolina no Brasil, segundo o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) e a Abicom.

A Petrobras também se esforça para aumentar a produção local. Segundo a empresa, o fator de utilização nas refinarias chegou a 93% no segundo trimestre, maior que os 89% do mesmo período de 2022.

Fontes no alto escalão da Petrobras consideram “quase nula” a chance de a estatal aumentar os combustíveis agora para acompanhar a alta internacional do petróleo. Analistas concordam que haveria impacto na inflação, cuja desaceleração é um dos principais argumentos do governo para pressionar o Banco Central (BC) a baixar a taxa básica de juros.

Para Marcelo de Assis, diretor de pesquisa na área de Upstream (Exploração e Produção) da consultoria Wood Mackenzie, a distorção nos preços da Petrobras terá que ser corrigida em algum momento. Caso contrário, a estatal estará rumando para uma política de subsídio, cuja conta fica para a empresa.

“A nova política de preços da Petrobras não é transparente, portanto fica difícil afirmar se está dentro do esperado ou não. A impressão é que aproveitaram o período em que os preços internacionais do petróleo baixaram e ficaram entre US$ 70 e US$ 75, e o real valorizado, para reduzirem os preços no mercado interno”, diz Assis.

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