A alta nas internações em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) no Estado de São Paulo tem ameaçado estoques de medicamentos usados em entubações e, também, provocado uma escalada no preço desses remédios.
“O kit intubação foi o que mais sofreu uma elevação. Em comparação com dezembro, já na pandemia, a março, o rocurônio, que custava R$ 16 reais, agora em março está custando R$ 298. Quase 1.700% a mais. O atracur 25ml, em dezembro eu pagava R$ 14,30 e hoje estou pagando R$ 69. O propofol 20ml, em dezembro era R$ 13,10 e hoje estou pagando R$ 33,40, 154% a mais. O anfetanila 10ml, em dezembro era R$ 5,10 e hoje, R$ 10,50”, disse.
Além dessa ameaça, há outra: a escassez desses medicamentos necessários para o processo de entubação dos pacientes. Diretores de hospitais particulares e de Santas Casas declararam que já solicitaram aos governos federal e estadual ajuda para evitar que os estoques fiquem zerados.
Segundo Marco Aurélio Ferreira, diretor-executivo da Associação Nacional de Hospitais Privados Anap), que representa os 118 maiores hospitais particulares do país, a previsão é a de que, a partir desta terça-feira (23), três sedativos se esgotem: o propofol, o cisatracúrio e o atracúrio. Já o rocurônio e o midazolam devem acabar em duas semanas, e o fenatanila, em três.
Na UTI da Santa Casa de São Carlos, ao menos dois dos remédios usados para entubar pacientes estão no fim e um terceiro já acabou, de acordo com Luiz Oliveira, coordenador médico da UTI Covid. “O estoque do midazolan já esgotou. Tive que trocar pra propofol, que é outra medicação sedativa, e eu também tenho pra pouquíssimos dias”, afirmou.
Cesar Eduardo Fernandes, presidente da Associação Médica Brasileira, explica que, quando um medicamento básico começa a faltar, “há uma corrida na busca por esses insumos”, o que provoca uma descoordenação do abastecimento.
”Então é possível que alguns hospitais tenham estoque para mais tempo e outros, para menos tempo. Acredito que as indústrias locais não estão conseguindo produzir num ritmo para essa explosão de casos e, do mesmo modo, acho que precisa acelerar a importação.”
Para Laura Schiesari, professora e pesquisadora do FGVSaúde e especialista em gestão de saúde, o ideal seria a criação de uma força-tarefa do Ministério da Saúde para melhorar a capacidade de compra e distribuição desses recursos.