Sexta-feira, 07 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 21 de maio de 2024
O prefeito Sebastião Melo calcula que aproximadamente 20 mil de um total de 1,5 milhão de habitantes de Porto Alegre tenham perdido suas casas devido às enchentes que atingem o Estado desde o fim de abril. Extraoficial, a estimativa foi compartilhada durante entrevista a uma emissora de televisão nessa terça-feira (21).
Ele ressalvou, porém, que uma estatística mais exata dependerá de aspectos como a extensão dos danos residenciais, que podem inviabilizar a recuperação de um imóvel. Há também a própria questão financeira, pois nem todos os desabrigados terão condições de arcar com o custo de reconstrução – muitos sequer sabem o que encontrarão no retorno ao lar.
Morador do Humaitá (Zona Norte), um dos mais atingidos pela catástrofe ambiental na capital gaúcha (estima-se em 12,7 mil o número de moradores desabrigados no bairro), o técnico de radiologia Moacir José Altacruz, 58 anos, expôs à reportagem do jornal “O Sul”. O caso é emblemático desse tipo de incerteza:
“Estou com toda a minha família em um abrigo público. Minha casa fica ali pertinho da Arena do Grêmio e inundou rapidamente, de modo que saímos praticamente só com a roupa do corpo. Ainda não há condições de voltar para lá, porque a região continua debaixo d’água. E, sinceramente, não faço a menor ideia de como as coisas estarão”.
Dados da administração municipal de Porto Alegre indicam quase 158 mil pessoas prejudicadas diretamente pela tragédia, a maioria nos bairros Sarandi (26,1 mil), Menino Deus (18,2 mil), Vila Farrapos (17,5 mil) e o mencionado Humaitá (12,6 mil). Já o número de imóveis afetados se aproxima de 40 mil.
Stress pós-traumático
Outro problema futuro é o stress pós-traumático. Em comportamento mais ou menos parecido com o de um ex-combatente que retornam de uma guerra com reações de pânico ao ouvir ruídos de tiros ou aviões, por exemplo, quem passa pela experiência de deixar compulsoriamente a sua casa devido a uma enchente também pode enfrentar sequelas psicológicas.
“Ainda que eu consiga recuperar a minha residência, como será nossa vida ali?”, questiona Altacruz. “A cada novo temporal que cair, não sei o que falarei para tranquilizar a minha família, porque o baque é forte. Aliás, não sei nem como eu mesmo reação. Certamente viveremos com medo, o que me faz pensar que uma mudança para outro bairro ou mesmo cidade, algo que eu nem sei se poderei em termos financeiros.”
(Marcello Campos)