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Prefeitura é um produto vendável? Qual é o limite da publicidade?

Leio no Diário Oficial que a Prefeitura de Porto Alegre gastará 34,9 milhões em publicidade. Este valor corresponde a 20% do orçamento do Poder Legislativo – para se ter uma ideia do seu tamanho.

Porto Alegre tem dessas coisas. A Câmara devolve mais de 40 milhões ao Poder Executivo e este torra quase isso em publicidade.

Será que esse tsunami de publicidade no radio e televisão tem amparo legal? É possível fazer publicidade desse quilate e com esse conteúdo propagandístico?

A Constituição diz que a publicidade deve ser informativa e educativa. No que esses mais de 34 milhões estão contribuindo para a educação de alguém? Ou: por que é necessário informar a População sobre coisas tipo “agora Porto Alegre vai” e quejandos? Parece Casas Bahia. De cinco em cinco minutos, lá vem a musiquinha…

Acho que o Prefeito exagerou. Penso que o porteiro do fórum daria liminar contra esse tipo de publicidade.

Dizer, por exemplo, que o IPTU agora é mais justo (para quem?) é uma informação educativa?

Esse povo é tão inculto que, depois de a Prefeitura aumentar o imposto, precisa que lhe diga que o aumento foi justo e que, para isso, o inculto deve pagar com sua parcela de sacrifício? Hum, hum.

O governo é um produto vendável? Há alguém que faça concorrência com o governo? “- Olhem, compre deste governo não do outro…”. Seria isso? Ou: “- pague o IPTU da Prefeitura de Porto Alegre. Ele é mais justo que o IPTU de Viamão. Pague o da Capital. Ele é mais você”. Ou coisas do gênero.

Fico imaginando a publicidade. Já é estranho que a Corsan, que não tem concorrência, faça publicidade. “ – A nossa água é melhor que a de Santa Catarina… Bingo”. Algo assim?

“ – O nosso IPTU é mais justo, viu? Curta o IPTU. IPTU is love. Faça como o influencer Fulano: pague o IPTU em dia e ganhe desconto”.

“- Seu carro roda melhor no asfalto da perimetral”. “- Na Secretaria da Segurança de Porto Alegre você está mais seguro” – outra campanha.

Campanha dos Azuizinhos: “ – sua multa é muito melhor quando aplicada pelos valentes agentes da EPTC”. Cena dois: Aparece um agente com sorriso Colgate, dizendo: “- Não se deixe multar em Caxias. Porto Alegre multa melhor”. Cena final, em que aparece um sorridente portoalegrense: “- Fui multado! Agora estou mais feliz! Agora o trânsito vai pra frente!”

Outro quadro: “- Papai, você já pagou o IPTU?”. “- Não, meu filho.” “Mas, papai, você não ouviu a publicidade da Prefeitura?”. “Ainda não, filho. Já, já, ligarei o rádio”. Minutos depois…: “Filho, ouvi. Poxa. Como é bom morar em Porto Alegre. Porto Alegre é de todos”.

Falando sério: a Prefeitura vende sua folha de pagamento a um banco por cinco anos e arrecada 89 milhões. Ao mesmo tempo, gasta 34, 9 milhões em publicidade. A folha foi vendida por pouco ou a publicidade está muita cara?

República é uma coisa complexa. O Prefeito fez campanha dizendo que não aumentaria impostos. Criticou a tudo e a todos. Pois é.

Nota final: sou insuspeito, porque, como visto no Programa Pampa Debates – Paulo Sérgio Pinto é testemunha – posicionei-me, à época, em favor da readequação da planta do IPTU. Ou seja: fui a favor do aumento do imposto. Agora… não era para dar nisso “daí”.

Feliz 2020 para os meus leitores!

 

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