Domingo, 27 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 19 de julho de 2023
Quem é mais vivido certamente brincou de adivinhar qual era o estúdio responsável pela dublagem dos filmes exibidos na televisão: Herbert Richers, Álamo, VTI Rio… A brincadeira com os nomes que eram ditos nos primeiros minutos, logo após os créditos iniciais, existe até hoje no TikTok. Nos últimos anos, filmes dublados proliferaram também nas salas de cinema, fazendo com que muitas pessoas, que preferem as versões legendadas, passassem a reclamar da falta de espaço destas últimas.
Ao mesmo tempo, o Brasil é conhecido por sua dublagem bem-feita e pelo trabalho de dubladores famosos como Isaac Bardavid (1931-2022), o Esqueleto de He-Man e os Defensores do Universo, Freddy Krueger da franquia A Hora do Pesadelo, além do X-Men Wolverine em animações e filmes da Marvel.
É fácil encontrar no Twitter centenas de queixas de pessoas com frases como “odeio filme dublado”. Mas por que tanta reclamação? Em 2021, o portal ingresso.com divulgou um balanço dizendo que 73% dos bilhetes comprados naquele ano tinham sido para sessões dubladas. A justificativa para tantos ingressos pode ser, de fato, a falta de sessões legendadas, mas também pode se tratar de uma mera questão mercadológica.
“Há 30 anos, quando eu comecei a dublar, o mercado e o mundo eram outros. Tudo o que se consumia na TV aberta era dublado. A dublagem exercia o papel social dela na essência: fazer aquele projeto estar disponível para todo o Brasil”, comenta a dubladora Mabel Cezar, que já emprestou sua voz a Jennifer Aniston e a personagens como Minnie Mouse, Luluzinha e Janet, da série Eu, a Patroa e as Crianças. “Se não tivesse a versão dublada poucas pessoas assistiriam”, continua.
Um dos pontos para entender o que pode levar ao aumento de cópias dubladas nas salas de cinema é a acessibilidade. É mais fácil para qualquer pessoa nascida no Brasil, que fala português desde criança, entender o que se diz num filme ou série que está dublado. Além disso, nem todos conseguem ler o que está na tela na velocidade em que as legendas são exibidas. Sem contar a quantidade de informação que pode ser perdida quando você precisa focar no texto.
“Uma das coisas de que eu mais gosto é a imersão, de não ter de ficar lendo a legenda”, opina Lukão Russo, ator e social media. “Como consumidor eu acho fantástica a voz do personagem encaixar tão bem, é como se o ator estivesse ali fazendo um filme nacional, me sinto dentro do filme”, ressalta.
Para ele, outro ponto que difere entre os que preferem legendados é o nível de proficiência na língua estrangeira que está sendo falada no original. “Para quem é fluente e está familiarizado com a cultura do país é ótimo, mas se você não entende, não vai adiantar muito ouvir uma piada, por exemplo”, diz.
A briga pelas cópias legendadas ou dubladas é também uma disputa de versões, que pode ser confundida com elitismo. Afinal, muitas pessoas no Brasil não têm acesso a uma formação em língua estrangeira e, por outro lado, nem todo mundo está disposto a passar as duas horas da sessão de cinema lendo.
Um ponto a se destacar é que tanto as cópias dubladas quanto as legendadas são versões brasileiras. “O ser humano só vê 30 caracteres por segundo. É muito pouco, e a regra para a legendagem é que tem de ter 32 caracteres por linha. Não pode ter mais de duas linhas e, quando não tiver ninguém falando, não pode ter legenda”, ensina Mabel. “Ou seja, a legenda é um resumo.”
Muitos críticos de cópias dubladas dos produtos audiovisuais usam as adaptações de textos nas versões brasileiras para julgar negativamente esses trabalhos. Se formos por esse lado, ambos os trabalhos, dublados ou legendados, são adaptados.
Além disso, Mabel lembra que, antes da internet, pesquisas para adaptar os textos com mais proximidade aos trabalhos originais eram muito difíceis. Por isso, em um episódio de Chaves, por exemplo, o personagem prefere ver o filme do Pelé.
O dinheiro é chamado de cruzado e Acapulco chegou a virar Guarujá em uma adaptação.
Isso é visto como uma forma de aproximar o brasileiro do produto sem deixar de lado a piada ou o contexto do assunto falado. “Seria um trabalho de pesquisa surreal, mas hoje em dia não seria possível (fazer mudanças do tipo). Existiram maravilhosas adaptações que foram geniais, mas nosso trabalho agora é mais difícil”, revela ela.
A verdade é que há espaço para todos, mesmo que o número de salas com cópias legendadas aumente. “Eu entendo quem reclama de não ter opções, mas esse preconceito não faz sentido”, aponta Mabel. Ela acredita que o melhor dos mundos seria todos os produtos terem cópias dubladas e legendadas. Mas é tudo uma questão mercadológica. “E quando você fala de mercado, fala de business e dinheiro.”
Lukão, que diz só ver cópias legendadas quando não tem a opção dublada, conta que poucas vezes sofreu preconceito por isso. “Acho uma babaquice, na minha roda de amigos próximos não acontece porque todo mundo sabe de minha preferência.” Algumas coisas, como desenhos animados, ele só vê dublado. “Os Simpsons, por exemplo, não tem como ser legendado”, diz. A animação, que já tem 34 temporadas, conta com as vozes marcantes dos dubladores Waldyr Sant’anna, Júlio César e Carlos Alberto Vasconcellos da Silva como Homer. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.