Localizado no Centro Histórico de Porto Alegre, o Espaço Cultural do Hotel Praça da Matriz (HPM) hospeda às 17h desta quarta-feira (28) o primeiro de três encontros da nova edição da série de bate-papos “Roda de Cultura”. A convidada da vez é a premiada artista plástica gaúcha Beatriz Dagnese, em conversa mediada pela arquiteta Lídia Fabrício, responsável pela expografia do espaço, e pela empresária Ilita Patrício, proprietária do estabelecimento.
Beatriz participará de outros dois encontros da série de bate-papos “Roda de Cultura”: 25 de setembro e 9 de outubro (ambas as datas também em quartas-feiras, às 17h). A entrada é franca e aberta ao público em geral, porém com vagas limitadas – mediante inscrição pelo whatsapp (51) 9859-55690.
Em paralelo, prossegue no local até 13 de outubro a exposição “Tramas, Rendas e Bilros”, com mais de 20 desenhos já conhecidos ou inéditos, ressaltando a marca particular de Beatriz Dagnese: o uso de nanquim e grafite sobre papel na criação de imagens que transitam entre o figurativo e o abstrato.
Perfil da artista
Nascida e criada em uma família de agricultores de ascendência italiana na zona rural de Nova Bassano (Serra Gaúcha), Beatriz Dagnese iniciou sua trajetória nas artes plásticas de modo intuitivo, com 24 anos, ao ter sua atenção despertada por ilustrações publicadas na imprensa de Porto Alegre, para onde havia migrado na juventude, por conta do trabalho como enfermeira. Ela relembra hoje, aos 70 anos:
“Desde a adolescência eu tinha muito claro que não queria para mim a vida agrícola, e sim estudar e trabalhar em outra área. Sempre me interessei por arte e queria fazer algo na área, mesmo sem saber exatamente o quê e imaginando que não tinha como sobreviver da atividade na época, até deparar com desenhos de Vera Lúcia Didonet nas páginas de um dos jornais deixados pelos médicos em uma sala de hospital onde eu cumpria experiente, em 1978”.
A descoberta impactou Beatriz de tal forma que ela imediatamente passou a rabiscar a lápis uma série de esboços sobre folhas de receituários. “Eu achava que desenhava”, brinca. “Não parei mais. Fui experimentando outros materiais, técnicas e imagens que acabaram definindo um estilo, ao mesmo tempo em que continuava no setor da saúde. Já dividindo meu tempo entre Porto Alegre e Canela, montei um ateliê em minha casa no Interior.”
O encorajamento constante pelos amigos a levou a socializar pela primeira vez a sua obra, inscrevendo-se na edição 2008 do Salão do Jovem Artista, promovido pela Secretaria Estadual da Cultura. Resultado: o primeiro lugar na região da Serra Gaúcha. Dali em diante, Beatriz teria o seu trabalho reconhecido em outros certames, como o Salão da Câmara de Vereadores de Porto Alegre (Menção Honrosa) e Bienal do Mercosul de 2015, sendo saudada pelo curador Gaudêncio Fidélis: “Por onde tu andavas todo esse tempo?”.
Aposentada da enfermagem e hoje totalmente dedicada ao trabalho com desenho, seu trabalho tem sido compartilhado em mostras individuais e coletivas dentro e fora do Rio Grande do Sul. A artista faz um balanço de seu ingresso e projeção na atividade: “Entrei na hora certa, com cinquenta e poucos anos, sem jamais me sentir incomodada por ter começado na arte em um momento que muitos podem considerar tardio”, avalia. “Para mim, criar é fazer o que os outros não fizeram.”
Espaço cultural HPM
Inaugurado como imóvel residencial no final da década de 1920, o palacete do Largo João Amorim de Albuquerque nº 72 abriga há quase 50 anos o Hotel Praça da Matriz. O empreendimento passou por ampla revitalização e, sob o comando da família Patrício desde 2014, hospeda anônimos e famosos, além de abrigar o Espaço Cultural HPM. No foco estão exposições, saraus, lançamentos de livros e outros eventos, em parceria com a empresa Práxis Gestão de Projetos.
A origem do imóvel remonta a Luiz Alves de Castro (1884-1965), o “Capitão Lulu”, dono do cabaré-cassino “Clube dos Caçadores”, instalado de 1914 a 1938 na rua Andrade Neves (a poucas quadras dali) e enaltecido por cronistas e escritores como Erico Verissimo. A fortuna amealhada pelo empresário com a atividade ainda bancou, na mesma época, a construção do imponente edifício que hoje sedia o Espaço Cultural Força e Luz (Rua da Praia).
(Marcello Campos)