Sábado, 23 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 11 de maio de 2018
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Noam Chomsky é um ícone da esquerda. Talvez ele seja o mais duro e contumaz crítico vivo do capitalismo e dos governos americanos. Leio alguma coisa que ele escreve ou diz, para não perder o costume. Chomsky é ativista político, filósofo e linguista emérito. Do alto de tais atributos incorre em declarações improváveis, em teorias exóticas e em reflexões frívolas. Não há nele nenhum esforço de permanecer no terreno da lógica e da sanidade.
Dias atrás, ele manifestou sua convicção de que Lula é perseguido pelas elites e só foi condenado por causa de suas políticas reformistas, quando esteve no governo. Isto é, Lula está preso pelo que o seu governo fez de mais meritório. Ao mesmo tempo, sustentou que a esquerda (o PT) deveria examinar o que deu errado e fazer uma autocrítica. A plateia ouviu em silêncio obsequioso, como é comum nesses ambientes. Ninguém notou nem anotou a contradição.
Ora, se Lula está preso porque fez o bem e governou em favor dos excluídos, então o PT não tem nenhuma autocrítica a fazer. E se o PT “sucumbiu na maldição da corrupção”, segundo as palavras do próprio Chomsky, então Lula, que era e até hoje é chefe e líder, não pode ser eximido de culpa.
Na cruzada pró Lula, Chomsky ganhou um aliado de peso: Adolfo Pérez Esquivel, prêmio Nobel da Paz no ano de 1980, pela sua atuação em favor dos direitos humanos, durante a ditadura militar argentina. Ambos defendem a candidatura de Lula ao Prêmio Nobel da Paz deste ano, pelas suas políticas sociais de inclusão.
Do que eles dizem, do seu raciocínio acrítico e irreflexivo, de sua memória fraca, devemos inferir que o Brasil estava bombando em prosperidade, mas os avanços foram barrados de abrupto pelo golpe das elites e pelo governo Temer, o qual em poucos meses destruiu as conquistas e afundou o país na crise atual, na recessão, no desemprego em massa e no retorno às mazelas históricas. Não cogitaram que as conquistas eram frágeis, não se sustentavam nem tinham como perdurar. Pertenciam mais ao campo da retórica do que da vida real.
Portanto, tudo se reduz a uma trama conspiratória, levada a efeito pelas elites predadoras de sempre, tão cruéis e malvadas a ponto de ficarem incomodadas com a ascensão social e a melhoria de vida dos mais pobres. E do saco sem fundo de suas maldades tiraram o golpe de 2016, para afastar Dilma, Lula, o PT, as esquerdas, promovendo a volta dos pobres ao andar de baixo, de onde nunca deveriam ter saído.
O discurso não tem pé nem cabeça, são lendas urbanas em série, bem ao gosto e estilo do imaginário esquerdista. Mas é eficaz para a narrativa invocar personagens icônicos como Chomsky e Esquivel. Eles se prestam ao papel e exibem suas performances de bom grado. É para isso que são “intelectuais”.
Como assinala Pinheiro da Fonseca em artigo na Folha, ao mencionar o discurso de que Lula é perseguido por ter origem pobre: “Para acreditar nisso é preciso ter cursado ensino superior em alguma federal ou PUC”. Ou como disse o escritor inglês George Orwell, célebre autor do clássico “1984”: “Algumas ideias são tão absurdas que só um intelectual pode acreditar nelas”.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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