A escritora sul-coreana Han Kang, de 53 anos, venceu o Prêmio Nobel de Literatura de 2024, anunciado às 8h (horário de Brasília) dessa quinta-feira (5) pela Academia Sueca. O Nobel de Literatura é entregue pela Academia Sueca, em Estocolmo, desde 1901. Segundo a Academia, Kang ganha o prêmio “por sua intensa prosa poética que confronta traumas históricos e expõe a fragilidade da vida humana”.
Kang é autora de “A vegetariana”, publicado no Brasil pela Todavia. Em 2016, ela superou estrelas literárias como a italiana Elena Ferrante, o turco Orhan Pamuk, o angolano José Eduardo Agualusa e o brasileiro Raduan Nassar para vencer o Man Booker Internacional com o livro. O crítico literário Boyd Tonkin, presidente do júri, na época disse que o livro “compacto, refinado e perturbador” de Han mostrava uma “mistura excepcional de beleza e horror”.
“Estamos felizes demais. É a consagração merecidíssima de uma autora tão singular que reinventa a forma de contar histórias a cada novo livro”, diz Leandro Sarmatz, editor da autora na Todavia, revelando que a editora vai publicar um novo livro dela, “I do not bid farewell”, em 2025. Outro livro dela, “Atos humanos”, também já foi lançado aqui.
Em 2018, ela se viu envolvida em uma lista feita pela ex-ministra sul-coreana da Cultura Cho Yoon-Sun que acusava quase 10 mil intelectuais e artistas de todos os campos de serem “esquerdistas demais”. Além de Han Kang, também faziam parte da lista personalidades como o cineasta Park Chan-wook. Cho Yoon-Sun acabou condenada a dois anos de prisão por conspiração.
“Quando estava escrevendo ‘A vegetariana’, eu queria questionar o que é ser humano, e queria descrever uma mulher que desesperadamente não queria pertencer à raça humana, e que, desesperadamente, queria rejeitar a humanidade, que comete crimes terríveis”, explicou ela, sobre o livro premiado.
Han Kang nasceu na cidade sul-coreana de Gwangju, em 1970. Aos nove anos, se mudou com sua família para Seul, onde vive até hoje. Ela vem de uma família literária, seu pai, Han Seung-won, é um conhecido romancista na Coreia do Sul. Além da literatura, Kang também tem interesse em artes plásticas e música, que se refletem em seus livros.
Han Kang começou sua carreira publicando uma série de poemas na revista “Literatura e Sociedade”, a partir de 1993. Dois anos depois, fez sua estreia em prosa com a coleção de contos (“Amor de Yeosu”), seguida logo depois por várias outras obras em prosa, como o romance “Suas Mãos Frias”, de 2002.
O grande sucesso internacional de Han Kang veio com o romance “A vegetariana”, de 2007. Escrito em três partes, o livro retrata as consequências violentas que a protagonista Yeong-hye enfrenta ao se recusar a se submeter às normas alimentares. Ela é rejeitada pelo marido e pelo pai autoritário, e chega a ser internada em uma clínica psiquiátrica, de onde sua irmã tenta resgatá-la para trazê-la de volta a uma vida “normal”.
No romance “Atos humanos”, de 2014, também lançado no Brasil, ela parte de um evento histórico ocorrido em sua cidade natal, Gwangju, onde centenas de estudantes e civis desarmados foram assassinados durante um massacre realizado pelos militares sul-coreanos em 1980. No gênero da literatura testemunhal, ela busca dar voz às vítimas da história, usando o expediente particular de permitir que as almas dos mortos sejam separadas de seus corpos, permitindo-lhes assim testemunhar sua própria aniquilação.
Segundo a Academia Sueca, “O trabalho de Han Kang é caracterizado por essa dupla exposição de dor, uma correspondência entre tormento mental e físico com conexões próximas ao pensamento oriental”.