Quinta-feira, 21 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 27 de agosto de 2022
A Turquia negou o acesso às suas águas territoriais para o porta-aviões brasileiro que seria desmantelado no oeste do país, descrito por grupos ambientalistas como o “navio de amianto”.
“Decidimos anular o acordo condicional concedido ao navio NAe São Paulo. O porta-aviões não será autorizado a entrar em águas territoriais turcas”, disse nessa sexta (26), o ministro do Meio Ambiente da Turquia, Murat Kurum, no Twitter.
Segundo Kurum, as autoridades brasileiras não cumpriram as condições exigidas pela Turquia, como uma segunda inspeção no barco e a entrega de um “inventário de substâncias perigosas” ao ministério turco.
O antigo porta-aviões São Paulo deveria ser desativado em Aliaga, na costa oeste do país. Entretanto, o acordo provocou fortes reações da oposição e de ONGs ambientalistas, que denunciaram o risco de contaminação por amianto em meios terrestres e marinhos.
“Paramos o navio tóxico São Paulo. Esse veículo foi impedido porque soubemos nos manter unidos e determinados”, tuitou o grupo ambientalista Doganin Cocuklari, que havia convocado uma manifestação contra a entrada do navio em águas turcas.
O porta-aviões NAe São Paulo pertencia anteriormente à Marinha francesa, com o nome de Foch, e foi vendido para o Brasil nos anos 2000, após 37 anos de serviço.
A exposição ao amianto, reconhecido como cancerígeno, foi proibida na Turquia em 2006. Contudo, segundo a mídia turca, trabalhadores de diversos setores, principalmente os que atuam no desmantelamento de navios, seguem expostos ao mineral.
O destino da embarcação tornou-se um teste de compromisso do presidente turco Recep Tayyip Erdogan com o meio ambiente, a menos de um ano das próximas eleições legislativas.
De acordo com as pesquisas, os temas ambientais podem ser decisivos para milhões de jovens turcos que votarão pela primeira vez em 2023.
Entenda o caso
Desativado desde 2017, o porta-aviões São Paulo, cuja exportação é alvo de denúncias por organizações ambientalistas, é a maior embarcação que já integrou a frota da Marinha brasileira, mas viveu uma história de problemas desde que chegou ao país, em 2001.
Com 266 metros de comprimento e pesando 31 mil toneladas, o navio tem capacidade para até 40 aeronaves e seu armamento era composto por três lançadores duplos de mísseis e metralhadoras de grosso calibre.
Foi construído no final dos anos 1950 e batizado pela Marinha francesa de Foch. Tinha um gêmeo, o porta-aviões Clemenceau, já desmantelado. Foi comprado em 2000 pela Marinha brasileira e chegou ao país em 2001.
Em 2004, uma explosão em um duto de vapor da embarcação matou três pessoas. Logo depois, em 2005, o porta-aviões foi enviado para obras de revitalização e só foi reincorporado à frota cinco anos depois.
A Marinha chegou a planejar outra modernização em 2015, para estender a vida útil do navio até 2039, mas decidiu desativar o navio dois anos depois. Ele foi vendido à turca Sök Denizcilik and Ticaret Limited por R$ 10,5 milhões em leilão realizado em 2021.
O processo de venda foi questionado logo no início por ambientalistas, que conseguiram proibir a participação de estaleiros asiáticos, limitando o rol de interessados a estaleiros que cumprissem requisitos europeus de manuseio de produtos tóxicos.
Segundo especialistas, há grandes quantidades de amianto em sistemas de isolamento da embarcação.