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Política Presença de aliados no governo já constrange a “bancada” da Lava-Jato

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Sérgio Moro e Deltan Dallagnol são os maiores expoentes da antiga operação, e contam com governistas em seus partidos

Foto: Marcos Corrêa/PR
Moro é acusado de abuso de poder econômico porque, nas eleições de 2022, se lançou inicialmente como candidato à Presidência da República. (Foto: Marcos Corrêa/PR)

Ao vencer a disputa pelo Senado no Paraná, o ex-juiz Sergio Moro (União-PR) avisou: “A Lava-Jato vive e vai chacoalhar Brasília”. Ex-procurador em Curitiba, berço da força-tarefa contra a corrupção que ganhou proporções nacionais, Deltan Dallagnol (Podemos-PR) seguiu a mesma linha horas depois da confirmação de que havia sido o deputado federal mais votado do estado, decretando que a operação ressurgira “como uma fênix”.

Contudo, a estreia da dupla no Congresso, até o momento, ganhou sabor de embaraço, com a presença de correligionários de ambos no governo Lula — justamente o alvo mais simbólico da Lava-Jato, com condenações posteriormente anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Podemos

Dallagnol, por exemplo, até tentou barrar a decisão da bancada do Podemos de indicar nomes para dois cargos, mas acabou sendo voto vencido. Com a chancela dos colegas do ex-procurador, Douglas Figueiredo foi escolhido para presidir o Grupo Executivo de Assistência Patronal (Geap), enquanto o advogado Thiago Milhim, que chefia a sigla em São Paulo, assumirá uma secretaria no Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação.

Embora o partido não tenha ingressado formalmente na base governista, as movimentações são vistas como um indício de que isso pode ocorrer em breve, inclusive com novas indicações para postos de menor escalão, usados pelo Planalto como poder de barganha. As negociações, porém, ainda dependem da disposição dos votos no Congresso em pautas importantes para o governo — o Podemos conta com seis senadores e o dobro de deputados federais.

“A posição do Podemos é de independência, ou seja, não é situação nem oposição. Respeito posições diferentes da minha, assim como espero o mesmo respeito. Recebi absoluta liberdade para agir em oposição às pautas do governo Lula que considero retrocessos econômicos, morais ou no combate à corrupção”, assegura Dallagnol.

Promessa de diálogo

Se o possível viés governista do Podemos ainda está sendo desenhado, a presença do União Brasil de Sergio Moro no Planalto é cristalina. A legenda nascida da fusão entre o DEM e o PSL, partido pelo qual Bolsonaro elegeu-se em 2018, emplacou três ministros, mesmo número de PSD, PSB e MDB, todos atrás apenas do próprio PT, com dez.

Conforme os nomes de correligionários eram anunciados como titulares de pastas, cresceu a especulação de que Moro poderia buscar novos ares para manter o distanciamento de Lula, condenado por ele. A hipótese de desfiliação, entretanto, acabou rechaçada pelo próprio ex-juiz:

“Cabe à direção do partido decidir integrar ou não o governo. Eu faço e farei oposição ao governo do PT, que representa um retrocesso para o país. Sem oposição, não há democracia”, afirma ele, acrescentando, porém, que espera uma “convivência harmoniosa” no Congresso: — Democracia é diálogo.

União Brasil

Uma das ministras do União Brasil, Daniela Carneiro, do Turismo, viu o Ministério Público do Rio abrir um procedimento preliminar contra ela ontem. A denúncia sobre supostos gastos com verbas do fundo eleitoral em duas gráficas que seriam “fantasmas” foi protocolada pelo deputado Deltan Dallagnol, que promete colocar o combate à corrupção como uma das marcas do mandato recém-iniciado.

“Fiscalizar é uma das duas funções centrais do Parlamento e é fundamental para o controle de abusos governamentais, para a ética pública e para a democracia”, discorre o ex-procurador, que, em agosto do ano passado, foi condenado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), junto de outros procuradores, a devolver R$ 2,8 milhões em diárias e passagens relativas à Lava-Jato. A Justiça Federal do Paraná anulou a decisão posteriormente.

Ao lado de antigos alvos

Moro e Deltan tomaram posse em 1° de fevereiro, exatamente dois anos após a dissolução da Força-Tarefa da Lava-Jato no Paraná — momento tido como a última pá de cal lançada sobre a operação. Nos dias anteriores à cerimônia, Dallagnol declarou apoio a Marcel Van Hattem (Novo) na disputa pela presidência da Câmara, pontuando que o deputado representava os “valores cristãos e o combate à corrupção”.

As chances de vitória de Van Hattem, tidas como nulas, materializaram-se em apenas 19 de 513 votos, mas o ex-procurador não pareceu se incomodar. Nos corredores da Casa, ele disse abertamente que precisava apenas se posicionar — afinal, Arthur Lira (PP-AL), reeleito com adesão recorde, também entrou na mira da Lava-Jato, em denúncia que foi rejeitada pelo STF.

No discurso após a recondução à presidência, Lira bombardeou o legado da operação, que, segundo ele, teria alimentado o “processo de criminalização da política”. Na plateia, além de Deltan e Rosangela Moro (União-SP) — mulher do ex-juiz eleita deputada e espécie de membro honorário da “bancada” lavajatista —, estavam outros antigos alvos da força-tarefa com quem o ex-procurador terá que conviver, como Aécio Neves (PSDB-MG). No fim do ano passado, o STF rejeitou uma denúncia contra o tucano decorrente da operação.

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