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Brasil “Presente de puxa-saco para me agradar”, disse o ex-governador do Rio Sérgio Cabral sobre o anel dado a sua esposa pelo ex-dono da construtora Delta

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O ex-governador disse que não atuou na escolha das empresas que participaram da reforma do Maracanã. (Foto: Agência Brasil)

O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral Filho (PMDB) classificou como “presente de puxa-saco” o anel de 220 mil euros dado a sua esposa, Adriana Ancelmo, pelo ex-dono da construtora Delta, Fernando Cavendish, em 2009.

A declaração foi dada, nesta terça (5), durante audiência na 7ª Vara Federal Criminal. O ex-governador também disse que não atuou na escolha das empresas que participaram da licitação para a reforma do Maracanã e deu a entender que o atual governador, Luiz Fernando Pezão (PMDB), então secretário de obras, teve autonomia no processo.

“Presente de puxa-saco para me agradar, para minha mulher, que foi devolvido e ele assumiu”, disse Cabral, questionado sobre o anel. “Chega a ser risível, um ano depois da obra do Maracanã. Um empreiteiro encalacrado, um réu, que lavou mais de R$ 300 milhões. Devolvi para ele em 2012 [o anel] e não quis mais conversa, rompemos relações”, afirmou.

Em depoimento na mesma Vara na segunda-feira (4), Cavendish disse que o anel foi uma contrapartida para a construtora Delta participar da licitação da reforma do estádio do Maracanã para a Copa de 2014, com 30% da obra. Também na segunda, o ex-executivo da Odebrecht Benedicto Barbosa havia afirmado que a Delta foi imposta no convênio do Maracanã por Cabral.

No depoimento desta terça, Cabral afirmou que recebeu dinheiro da Delta para campanha política, admitiu o uso irregular do que chama de “sobra de campanha”, mas negou qualquer vício na licitação. “Não é factível que eu possa organizar quem vai ganhar, sobretudo numa licitação que o brasileiro e o mundo inteiro tinham interesse. Não podia combinar resultados”, afirmou.

“Sobre escolhas da empresa [na licitação], não participei. Não indiquei nenhum membro da comissão. Meu então vice, Pezão, foi meu secretário de obras. Dei autonomia ao então secretário de obras e assim ele fez”, disse Cabral.

O ex-governador também aproveitou a audiência para fazer críticas ao seu sucessor. “Infelizmente esse governo atual foi incapaz de manter o Teleférico do Alemão funcionando. Fico triste. Hoje saí da cadeia e vi carros da PM caindo aos pedaços. A crise não é minha não. Saí em abril de 14 com dinheiro em caixa, pagava em dia servidor.”

Durante a audiência, o ex-governador tentou dissertar sobre suas realizações no cargo, mas foi interrompido pelo juiz Marcelo Bretas, que afirmou que o julgamento não é sobre ter sido ou não um bom governador. “Não estamos aqui para avaliá-lo como o governador”, disse Bretas.

“O senhor concorda que um governante que tenha feito tudo isso, mas que se corrompeu nessa tarefa, terá perdido todo o louro dessa execução?”, questionou o juiz.

“Não estou dizendo que foi o que aconteceu”, completou. “Concordo. Não sou Adhemar de Barros: ‘Rouba, mas faz’. Eu realizo. Realizei. Não pedi propina para nenhum construtor, nenhuma prestadora de serviços. Nego 100 milhões de dólares [em propina]. São valores absurdos. Fui candidato a governador em 2006. Houve eleições em 2008, em 2010, 2012 e 2014. Me envolvi em todas elas”, disse Cabral, referindo-se ao ex-prefeito e governador de São Paulo, entre as décadas de 1940 e 1960.

Nesse momento ele foi novamente interrompido pelo juiz, que lembrou que, conforme os depoimentos de segunda-feira, os pagamentos foram feitos para ‘azeitar’ relações. “O senhor não vê um vínculo entre essas contribuições oficiais – não estou falando das oficiosas – e logo depois a proximidade que se criou?”, questionou novamente o juiz.

“O que eles [empreiteiros] não disseram é que me deram muito mais recursos no caixa dois. O senhor Benedicto Junior [delator da Odebrecht] mente a respeito desse valor porque nunca pedi propina às empreiteiras”, sustentou Cabral, acrescentando que políticos e empresários o chamavam de “chefe”. “Puxa-sacos”, ironizou.

 

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