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Presidente argentino, Javier Milei quer barrar proposta brasileira de taxação de super-ricos

A agenda de Milei nas 48 horas em que estará no Rio é mantida a sete chaves. (Foto: Divulgação)

Antes mesmo da chegada do presidente da Argentina, Javier Milei, ao Rio de Janeiro, a tensão entre a Casa Rosada e o governo brasileiro escalou na reta final da negociação para a elaborar a declaração final que será anunciada pelos presidentes na cúpula de chefes de Estado e de governo do G20, no início da semana que vem. Em meio a rumores sobre eventuais contatos entre Milei e o ex-presidente Jair Bolsonaro, que ganharam força após uma visita relâmpago do argentino aos Estados Unidos, onde participou de um jantar junto ao presidente eleito Donald Trump, a delegação argentina, confirmaram fontes do governo brasileiro, tentou barrar a menção no documento uma iniciativa central para a presidência brasileira do G20: a taxação dos super-ricos. A cada dia que passa, cresce o temor de que a presença de Milei, que esta semana também anunciou seu desejo de negociar um acordo de livre comércio com os EUA, o que violaria regras internas do Mercosul, na cúpula vire uma enorme dor de cabeça para o Brasil de Lula.

Os temores se aprofundaram após o encontro entre Milei e Trump na quinta-feira, no resort de Mar-a-Lago, e, coincidência ou não, a mudança de posição dos negociadores argentinos que já estavam no Rio. Além de Trump e vários de seus futuros funcionários, esteve no jantar de luxo na Flórida o magnata Elon Musk, que sempre se opôs à taxação dos super-ricos. De acordo com fontes do governo brasileiro, “a mudança de posição dos argentinos é uma jogada claramente política, e um ataque a uma bandeira que contraria os interesses econômicos dos aliados de Milei”.

A agenda de Milei nas 48 horas em que estará no Rio é mantida a sete chaves. Nem mesmo os representantes diplomáticos do país no Brasil sabem, ainda, onde ficará hospedado e com quem se reunirá o chefe de Estado. O presidente argentino chegará junto a uma pequena comitiva, integrada por sua irmã, Karina Milei, secretária geral da Presidência, o porta-voz Manuel Adorni, o novo chanceler Gerardo Whertein, e o ministro da Economia, Luis Caputo. O governo brasileiro, confirmaram fontes, teme que Milei, que chegará num avião fretado, segundo fontes argentinas, possa fazer acenos a Bolsonaro durante sua visita ao país.

Por parte do Brasil, acrescentaram as fontes consultadas, a decisão é continuar na linha de fazer gestos que mostrem o interesse de Lula de preservar a relação entre Estados. O último deles foi a convocação do novo embaixador argentino em Brasília, Daniel Raimondi, para apresentar cartas credenciais a Lula, na última quinta-feira.

Raimondi está no Brasil desde junho, mas somente agora, às vésperas da cúpula do G20, foi chamado para uma cerimônia que, no manual da diplomacia, tem enorme significado. Até a apresentação de cartas credenciais ao presidente, os embaixadores não podem, por exemplo, ser convidados para participar de eventos nos quais estará o chefe de Estado. Essa regra nem sempre é cumprida à risca, mas a apresentação de cartas credenciais é um último sinal verde do governo local a um embaixador estrangeiro. Por essa razão, justamente, muitas vezes é um recurso usado pelos governos para expressar desagrados.

A decisão de convocar Raimondi — sem muita antecipação — confirma, disseram fontes oficiais, que “Lula quer continuar mostrando disposição a trabalhar com a Argentina de Milei, apesar das conhecidas diferenças ideológicas entre ambos”. A recepção ao novo embaixador, comentaram fontes brasileiras e argentinas, foi cordial. Numa rápida conversa, Lula defendeu a necessidade de diálogo entre os dois países e sua disposição a continuar promovendo a relação “entre Estados”.

Está claro que o presidente brasileiro não tem interesse em buscar uma aproximação com Milei, e o sentimento é mutuo. Fontes do governo Lula confirmaram que o presidente não solicitou, nem solicitará, uma reunião bilateral com o argentino. Milei tampouco o fez e, segundo fontes argentinas, conversar com Lula no âmbito da cúpula de chefes de Estado e de governo do G20 não está nos seus planos. Em resumo, os dois presidentes dos dois países mais importantes do Mercosul e da América do Sul pretendem se ignorar mutuamente durante os dois dias de reuniões no Rio, com exceção do único momento em que não podem fazê-lo: a chegada de Milei ao Museu de Arte Moderna (MAM), na manhã de segunda-feira, quando, como todos os demais presidentes, será recebido por Lula.

Segundo fontes argentinas, Milei poderia ter outras reuniões bilaterais no Rio, ainda a serem confirmadas. Antes de chegar ao Brasil, o presidente argentino receberá o francês Emmanuel Macron em Buenos Aires. E após seu retorno à Argentina, na tarde do dia 19, está prevista uma visita oficial da primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, com quem Milei mantém forte sintonia. As informações são do jornal O Globo.

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