Quinta-feira, 16 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 7 de dezembro de 2024
O presidente da Argentina, Javier Milei, disse que o Mercosul – o bloco comercial que seu país fundou há mais de três décadas com Brasil, Paraguai e Uruguai – “acabou se tornando uma prisão” para seus membros, e pediu uma “nova fórmula” para o bloco.
Na sexta-feira (6), na 65ª cúpula do Mercosul em Montevidéu, a primeira da qual participa desde que assumiu o cargo há um ano, Milei criticou a Tarifa Externa Comum (TEC) estabelecida pelo bloco, que, segundo ele, encareceu a produção local e “fechou inúmeras rotas comerciais”.
Economista ultraliberal, o líder argentino enfatizou que, de meados da década de 1990 até hoje, a participação do Mercosul no comércio mundial caiu de 1,8% para 1,6%. “Nós nos trancamos em nosso próprio aquário, levando mais de 20 anos para chegar ao acordo que estamos celebrando hoje, que ainda está longe de ser uma realidade”, apontou, referindo à finalização das negociações para o tratado de livre comércio do bloco com a União Europeia.
“O Mercosul, que nasceu com a ideia de aprofundar nossos laços comerciais, acabou se tornando uma prisão que não permite que seus países membros aproveitem suas vantagens comparativas ou seu potencial de exportação”, disse Milei. “Esse não é um problema novo, mas se continuarmos tentando tapar o sol com as mãos, e será cada vez mais difícil resolvê-lo”, advertiu.
Nova fórmula
Segundo ele, o Mercosul “não pode continuar sendo uma armadilha”. Por essa razão, ele pediu aos parceiros que busquem “uma nova fórmula”, com maior flexibilidade, para o benefício de todos. O Mercosul não permite que seus membros negociem acordos comerciais com terceiros sem o consentimento dos demais parceiros.
“Vamos ganhar autonomia, respeitando os acordos que nos unem, e se o que nos une é comercializar livremente entre nós, proponho que afrouxemos os laços que hoje nos sufocam em vez de nos fortalecer”, disse. “Espero que, sem as vendas ideológicas, tenhamos a honestidade intelectual para podermos nos fazer as perguntas difíceis e a coragem para tomar as decisões necessárias.”
Até o fim do ano
Negociadores do governo brasileiro esperam que o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia seja assinado até o fim do próximo ano, disseram pessoas que acompanham as negociações. Essa etapa ainda vai depender da conclusão prévia de duas fases: a revisão legal (jurídica) do acordo anunciado ontem e a sua tradução para as línguas dos países participantes. Depois de assinado, o tratado ainda não estará em vigor, já que isso depende da sua aprovação pelos Parlamentos.
O ritmo da revisão legal e da tradução dos textos – processo que levará meses – também dependerá, em parte, da nova presidência do Mercosul, assumida pela Argentina de Javier Milei. O país vizinho assumiu na sexta-feira a liderança pro tempore do bloco comercial, durante a cúpula de chefes de Estado em Montevidéu.
Embora tenha apoiado o tratado comercial, a favor de uma maior flexibilização comercial, Milei é um crítico do bloco sul-americano, e reforçou sua visão ontem ao classificar o Mercosul como uma “prisão”. Por sua vez, no segundo semestre de 2025, será a vez de o Brasil assumir a presidência pro tempore, o que alimenta as expectativas de que, até o fim desse ciclo, o acordo possa ser assinado.
Segundo o governo brasileiro, o processo de revisão legal do acordo, voltado a assegurar a consistência, harmonia e correção linguística e estrutural aos textos, está avançado. Concluída essa fase, o tratado passará por tradução da língua inglesa para as 23 línguas oficiais da União Europeia e as 2 línguas oficiais do Mercosul (espanhol e português). (Estadão Conteúdo)