Quinta-feira, 28 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 1 de julho de 2024
Em meio à crescente tensão entre os presidentes da Argentina e do Brasil, o argentino Javier Milei decidiu não participar da próxima Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, no dia 8 de julho, no Paraguai, mas confirmou sua presença na reunião da Conferência Política de Ação Conservadora (Cpac), que será realizada no próximo fim de semana em Balneário Camboriú (SC) — e na qual também estará presente o ex-presidente Jair Bolsonaro.
A ausência de Milei na reunião de presidentes do Mercosul foi confirmada por fontes do governo brasileiro. Já a viagem do presidente argentino ao balneário de Santa Catarina foi noticiada pelo jornal La Nación e considerada “provável” pelo governo Milei. Ambas decisões causaram preocupação em fontes brasileiras, que temem um aprofundamento da crise bilateral.
Na reunião da Cpac também estarão presentes os dirigentes de extrema direita chileno José Antonio Kast e o mexicano Eduardo Verástegui. Em 2022, ainda como deputado, Milei participou de um encontro do grupo no Brasil. Em sua coletiva desta segunda-feira, o porta-voz da Casa Rosada, Manuel Adorni, afirmou que a presença de Milei em Santa Catarina era “provável”. De acordo com o La Nación, a viagem do presidente argentino já foi decidida.
A tensão entre Lula e Milei começou na campanha eleitoral Argentina de 2023, quando o então candidato da ultradireita argentino referiu-se ao presidente brasileiro como comunista e corrupto. Após a vitória de Milei, foram feitos esforços diplomáticos dos dois lados para aparar arestas e o resultado foram vários meses de aparente calma entre os dois principais sócios do Mercosul.
As duas chancelarias organizaram várias reuniões de trabalho, e a ministra das Relações Exteriores argentina, Diana Mondino, fez uma visita oficial ao Brasil. Tudo parecia caminhar sem grandes sobressaltos. Milei teve discussões fortes e públicas com outros presidentes, entre eles o colombiano Gustavo Petro, mas, até agora, evitou atritos com Lula. Os esforços diplomáticos, porém, foram insuficientes para impedir a escalada que começou semana passada.
A frágil paz terminou quando o presidente brasileiro disse, em referência às declarações de Milei de 2023, que o presidente argentino deveria “pedir desculpas ao povo do Brasil e a mim”. A reposta de Milei foi chamar Lula de “esquerdista com o ego inflado”.
“Desde quando deve-se pedir desculpas por dizer a verdade?”, perguntou o chefe de Estado argentino.
A Casa Rosada argumenta que Milei não irá à cúpula do Mercosul por problemas de agenda, mas a decisão foi tomada após a troca de farpas com Lula. Até semana passada, a presença de Milei na cúpula de Assunção era dada como certa por funcionários argentinos.
Paralelamente, o presidente argentino decidiu ir ao encontro da extrema direita internacional em Camboriú, onde se encontrará com Jair e Eduardo Bolsonaro, entre outros. Ambos participaram da posse de Milei em 10 de dezembro passado, na qual o Brasil foi representado pelo chanceler Mauro Vieira. O filho do ex-presidente esteve recentemente na Argentina e participou de eventos organizados por membros do partido de Milei, A Liberdade Avança, inclusive no Parlamento argentino.
Segundo fontes do governo brasileiro, eventuais reações de Lula à presença de Milei no Brasil ao lado de Bolsonaro dependerão da atitude do presidente argentino. Se Milei disser algo que for considerado uma ofensa pelo governo brasileiro a resposta, asseguraram as fontes, poderia ser até mesmo a convocação do embaixador do Brasil em Buenos Aires, Julio Bitelli.
A participação do presidente argentino no encontro da Cpac não será comentada pelo governo brasileiro. Mas se Milei repetir declarações agressivas sobre Lula, frisaram as fontes, “não se pode descartar sequer o rompimento de relações”. “Vamos calibrar, dependendo do que Milei fizer”, enfatizou uma das fontes do governo Lula.
Não é do interesse do presidente brasileiro, acrescentou a fonte, “subir no ringue com Milei”. Tudo dependerá das ações do argentino em território brasileiro. As relações bilaterais, admitiram as fontes, “caminham numa direção perigosa”.
A tensão entre os dois presidentes acontece pouco depois de que viera à tona o escândalo pela fuga de bolsonaristas envolvidos nos atos de 8 de janeiro para a Argentina. O caso preocupa o governo brasileiro, que acompanha de perto as investigações da Justiça argentina.