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Presidente da Argentina não reprovou os cânticos racistas entoados pelos jogadores da Seleção de seu país contra Mbappé e outros jogadores franceses

Jogadores da Argentina zombaram das origens africanas da seleção francesa. (Foto: Reprodução)

“Nenhum governo pode dizer o que comentar, o que pensar ou o que fazer à Seleção Argentina”. Esse foi o recado que o presidente Javier Milei deixou para o subsecretário de esportes Julio Garro, demitido na última quarta-feira (17) após cobrar a retratação de jogadores por um cântico racista.

Tudo começou após a Argentina vencer a Colômbia e se tornar mais uma vez campeã da Copa América. Uma live aberta pelo jogador Enzo Fernández registrou os jogadores entoando os seguintes versos:

“Eles jogam pela França, mas são de Angola. Que bom que eles vão correr, se relacionam com transexuais. A mãe deles é nigeriana, o pai deles cambojano, mas no passaporte: francês”.

Embora os argentinos tenham derrotado a Colômbia, o alvo das ofensas eram a seleção francesa e seus atletas, batidos na final da Copa do Mundo em 2022. O cântico já havia sido alvo de polêmicas em 2022, quando a Argentina foi campeã da Copa do Mundo do Catar após vencer a França.

O caso começou a ganhar repercussão na mídia argentina. O subsecretário de Esportes da Argentina, Julio Garro, afirmou em entrevistas que o capitão Messi e os jogadores da seleção deveriam se retratar.

Depois da repercussão negativa e das ameaças de punição, Fernández pediu desculpas e disse que “aquele vídeo, aquele momento e aquelas palavras” não refletem suas crenças e seu caráter. Refletem então o quê?

Desta vez, a Federação Francesa de Futebol apresentou uma queixa por racismo, e a Fifa anunciou que estava abrindo uma investigação para apurar a live de Enzo Fernández. O Chelsea, clube inglês onde joga Fernández, reconheceu as desculpas, mas anunciou abertura de processo disciplinar contra ele. O vídeo provocou repúdio de colegas do Chelsea. O zagueiro francês Wesley Fofana postou nas redes: “Futebol 2024: racismo sem pudor”.

O que já era ruim piorou com a declaração da vice-presidente da Argentina, Victoria Villarruel, em apoio a Fernández: “Nenhum país colonialista nos intimidará por uma canção de torcida ou por dizermos verdades que não querem admitir. Parem de fingir indignação, hipócritas. Enzo, te banco! (…) Argentinos sempre de cabeça erguida!”.

A seleção argentina tem direito a festejar efusivamente a conquista de mais um título. Mas precisa agir com a responsabilidade de uma campeã que inspira atletas no mundo inteiro. As ofensas racistas gratuitas aos franceses — que nem disputavam esse torneio — dão um péssimo exemplo ao futebol, que nos últimos anos tem penado para expulsar o preconceito dos gramados.

Reação internacional

Demorou, mas aos poucos clubes e federações no mundo inteiro se mostram mais empenhados em combater a chaga. Em maio, a Fifa anunciou protocolos próprios para denunciar e coibir o racismo. As regras, compartilhadas com suas 211 filiadas, incluem encerramento do jogo e derrota do time acusado. Em junho, em sentença inédita, a Justiça da Espanha condenou três torcedores do Valencia por insultos racistas contra o atacante brasileiro Vini Jr. Eles foram banidos dos estádios. Mas, infelizmente, o racismo persiste, como demonstra o lamentável episódio dos campeões argentinos.

Não pode haver lugar para preconceito ou ódio no futebol. Na última quarta-feira (17), em partida entre Botafogo e Palmeiras pelo Campeonato Brasileiro, torcidas organizadas alvinegras penduraram num viaduto bonecos enforcados que representavam a presidente do Palmeiras, Leila Pereira, e o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues. Rivalidade faz parte do esporte, mas, quando manifestações de ódio disputam protagonismo com os jogadores, é sinal de que algo vai muito mal.

 

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