Segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 30 de agosto de 2017
O presidente da Fenapef (Federação Nacional dos Policiais Federais), entidade que representa todas as categorias da PF (Polícia Federal), Luís Antônio Boudens, fez duras críticas ao filme “Polícia Federal – A Lei é para Todos”, inspirado na Operação Lava-Jato. Segundo Boudens, o longa exagerou no “propagandismo” dos delegados e traçou uma imagem caricata dos policiais federais.
Em mensagem enviada pela sua assessoria, Boudens diz que assistiu à pré-estreia do filme, em Curitiba (PR), e saiu decepcionado do cinema. “A permissão poética e a ficção retiraram a essência da Polícia Federal, ignorando aqueles que, de fato, descobriram a autoria e a materialidade de um dos maiores crimes de corrupção no País, dando lugar a uma mensagem corporativa”, afirmou.
A Fenapef defende uma política de valorização do trabalho dos agentes, escrivães, papiloscopistas e peritos da PF em comparação com os delegados, que são representados pela ADPF (Associação dos Delegados da PF). Uma das críticas da Fenapef é de que os delegados se apropriam dos trabalhos dos outros profissionais da PF durante a divulgação das operações.
Boudens aponta erros factuais no roteiro. “No decorrer do filme há cenas de delegados realizando prisões [como a fantasiosa cena de prisão do doleiro Alberto Youssef] e coletando provas em campo durante o cumprimento de mandado de busca e apreensão [como no sítio de Paulo Roberto Costa]”, exemplificou. “A sociedade precisa entender que todo o processo investigativo é realizado em conjunto e não exclusivamente por um cargo.
“Os demais cargos da PF estão na ponta do processo investigativo e jamais poderiam ter sido esquecidos ou relegados a uma penumbra ante sua importante atuação profissional, reforçando um estereótipo nada saudável para a segurança pública”, disse Boudens. “A obra desenrolou-se entre a distorção da realidade do dia a dia das investigações e os propósitos políticos, apesar da tentativa da direção do filme, e até dos personagens, em dizer o contrário.”
A conclusão do presidente da Fenapef é de que o filme não retratou com precisão a realidade da operação policial. “O roteiro do filme enaltece o trabalho da Polícia Federal e as virtudes inquestionáveis da Operação Lava-Jato, mas retrata cenas muito distantes do mundo real.”
Para o sindicalista, a suposta distorção é resultado do apoio dado pela direção da PF à produção do filme, que foi “retribuído com um exagerado “propagandismo” ao cargo de delegado, alijando peritos e agentes federais, por exemplo, de situações cruciais durante a operação”.
Direção
“O noticiário trata do ‘pós-fato’, quando as coisas já aconteceram. Quisemos mostrar o ‘pré-fato’, como foi feita a investigação”, diz o diretor do filme Marcelo, Antunez. “O único jeito de contar isso é falar dos investigadores. Muitos detalhes do que aconteceu as pessoas não conhecem.”
O diretor disse ter conversado com mais de 40 pessoas durante a preparação, entre delegados, procuradores da República, Moro e até diretores da Petrobras. Ele e o elenco também tiveram conversas com alguns dos principais personagens da Lava-Jato. (Folhapress)