Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 5 de julho de 2022
Os puramente elétricos ainda representam parcela muito pequena das vendas de veículos no Brasil.
Foto: ReproduçãoAlgumas montadoras se preparam para produzir carros híbridos no Brasil. Esse grupo entende que o veículo com dois motores (um a combustão e outro elétrico) é a melhor forma de o Brasil se inserir na transição global para a eletrificação. E de também salvar seu grande parque industrial automotivo, já que os carros 100% elétricos, que requerem carregamento em tomadas, ainda não são fabricados no país devido ao alto custo dessa tecnologia. Não é, porém, o que pensa a direção da General Motors. Para o presidente da GM América do Sul, Santiago Chamorro, o Brasil não precisa de fase intermediária e pode, quando a tecnologia for mais acessível, ter a sua indústria de carros elétricos.
Chamorro diz estar convencido, pelo que mostram estudos globais, de que o carro 100% elétrico é superior ao híbrido no que diz respeito ao ganho ambiental. “As outras tecnologias passam a ser passageiras, temporárias”, destaca o executivo.
Os puramente elétricos ainda representam parcela muito pequena das vendas de veículos no Brasil. E são todos importados. A fatia desse tipo de carro representou 0,1% em 2021 e 0,3% das vendas acumuladas até maio deste ano. Embora ainda pequena, a participação dos híbridos foi maior – 1,6% e 2,0%, respectivamente.
“Os volumes são ainda baixos; mas tudo começa assim”, diz Chamorro. O executivo aponta a categoria premium, com modelos mais caros e onde se concentram as vendas dos 100% elétricos hoje, como a porta de entrada da transformação. Os consumidores dessa faixa, os “early adopters”, como são chamados nos Estados Unidos, diz o executivo, estão dispostos a pagar pela tecnologia que permite dirigir de forma “mais divertida” e silenciosa, entre outras coisas.
“Mas, no futuro, os carros serão elétricos em todos os segmentos onde temos presença”, afirma. Quando será isso? Ele responde, com bom humor, que esse é um tema “para uma próxima conversa”. A GM também não revela qual seria seu cronograma de eletrificação por região para atingir a meta global de ser neutra em carbono até 2040. Só no Brasil, a companhia tem três fábricas de veículos e uma de motores.
“Produzimos onde vendemos”, diz Chamorro, ao destacar, a vocação do Brasil, nono maior produtor de veículos do mundo e sétimo maior mercado, além de outros que montam carros na região, como Colômbia e Equador.
Com o elétrico, os processos vão mudar. “Haverá uma transformação fabril; nossos funcionários terão outras habilidades e usarão outras ferramentas”, destaca. “A transição não será imediata e até lá teremos carros a combustão com motores menos poluentes”, afirma o executivo.
A quem lhe pergunta se a tecnologia do elétrico não é cara para ser produzida na região Chamorro rebate com alguns fatos. Além de o Brasil ser fonte de energias renováveis em expansão, como solar e eólica, ele lembra que a América do Sul oferece reservas minerais, como cobalto e níquel, que favorecem o desenvolvimento dos veículos do futuro.
Além disso, destaca, o custo da tecnologia tende a cair. A GM desenvolveu uma plataforma modular, com conjunto de baterias que podem ser montadas em vários formatos, para uso em diferentes tipos de veículos. A flexibilidade dessa plataforma, chamada Ultium, permite atender desde quem busca um carro mais acessível até o que deseja um mais luxuoso, com bateria para alcance de maior ou menor quilometragem.
Há pouco tempo, GM e Honda firmaram um acordo global que usará novas gerações dessa plataforma para o desenvolvimento de carros econômicos. A expectativa das empresas é que em próximas gerações de elétricos o custo seja o mesmo de um carro a combustão.
Chamorro lembra que no ambiente urbano, o proprietário de um carro usado na rotina do dia a dia percorre, em média, 45 quilômetros por dia. Uma carga por semana, nesse caso, é suficiente. E para quem acha que nenhum fazendeiro está interessado numa picape elétrica, o executivo diz que hoje os homens de negócio do campo investem em fontes de energia solar e eólica. “Muitos relatam dificuldades para chegar até um posto de combustível”, diz.
Para Chamorro, não há por que ter medo do carro elétrico. “Se perguntássemos a alguém, um século atrás, se gostaria de trocar seu cavalo por um automóvel, certamente muitos diriam que preferiam ter um segundo cavalo. Grandes mudanças envolvem fortes emoções”.
O fã dos elétricos só não pode esquecer de carregar as baterias. Aconteceu com Chamorro. Quando morava nos EUA, ele pediu ao filho para carregar o carro para irem, juntos, no dia seguinte, a uma partida de golfe. Mas o jovem esqueceu. A solução foi parar num posto de recarga rápida no meio do caminho.
Essa solução não seria tão fácil hoje no Brasil, onde a infraestrutura é precária. Mas Chamorro aponta para a expansão de investimentos privados nas estações públicas. Para ele, esse mercado vai continuar a atrair investidores quando a demanda por elétricos crescer.
A GM planeja investir US$ 35 bilhões para lançar 30 novos veículos elétricos até 2025. Três deles virão para o mercado brasileiro. As três novidades – Bolt EUV, Blazer EV e Equinoix EV – foram apresentadas há poucos pelo Youtube por Chamorro, um colombiano que está pela segunda vez no comando das operações da GM no Brasil e América do Sul. A audiência, diz, já somou 6 milhões de pessoas. “O consumidor está curioso”, diz.
Chamorro não critica diretamente os concorrentes que mostram interesse por carros híbridos e defendem o uso do etanol nesses motores. Mas indica que o assunto gera discórdia no setor. “Enquanto outras empresas veem isso como assunto pequeno nos vemos como questão central”, diz em relação ao 100% elétrico.
Competidores diretos da GM, como Volkswagen e Stellantis, pretendem ir por esse caminho. A Toyota já produz esse tipo de veículo e duas marcas chinesas – CAOA Chery e Great Wall já anunciaram que vão produzir híbridos a etanol no Brasil.
O carro elétrico é, porém, só uma parte do processo de transformação do veículo. Chamorro conta sobre os testes com carros autônomos da GM em São Francisco (EUA) e diz que tirar o motorista do volante será uma das formas para acabar com os acidentes de trânsito.
A conectividade é outra parte da transformação. O executivo prevê a expansão da comunicação do carro com a vida das pessoas. A GM já coleciona momentos pitorescos com o seu Onstar, serviço de comunicação por assinatura para navegação e emergências. Esse serviço tem ajudado, por exemplo, no resgate de veículos roubados. Mas um dos casos que emocionou Chamorro aconteceu nos EUA. O serviço de emergência foi acionado pela mãe de uma mulher prestes a dar à luz dentro do veículo. Treinados também para isso, os operadores auxiliaram na chegada do bebê ao mundo. “Vem aí uma onda de possibilidades”, diz Chamorro.