Quarta-feira, 05 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 30 de julho de 2019
Jair Bolsonaro mencionou o desparecimento do estudante e militante Fernando Santa Cruz (1948-1974), durante o período da ditadura militar, em crítica à Ordem dos Advogados do Brasil. O presidente dirigiu a ofensa especificamente à Felipe Santa Cruz, presidente do órgão e filho de Santa Cruz, ao questionar: “Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, conto para ele. (…) Não é a minha versão, é a que a minha vivência me fez chegar a essas conclusões naquele momento”.
O advogado afirmou, em conversa à BBC News Brasil, que “Aí há uma lista de possíveis crimes que ele pode estar incorrendo sim. (A começar pela) falsidade, a dar declaração falsa, provavelmente num arroubo verbal”. Além da possibilidade de estar levantando uma falsa acusação, ao pontuar que construiu uma conclusão a respeito da morte de uma possível vítima da ditadura militar tendo “a própria vivência” como base, Bolsonaro teria feito apologia à tortura, crime relatado no artigo 287 do Código Penal.
Felipe ainda expõe que, apesar da violência e falta de empatia no discurso de Bolsonaro, este não teria sido um ataque somente à ele: “Acho que é muito mais grave. É um ataque à memória dos que lutaram pela democracia, pela construção democrática do país, que passa pela Constituição de 1988. É um gesto de rancor com a democracia”. De acordo com a constatação da Comissão da Verdade, Fernando Santa Cruz foi preso no Rio de Janeiro por um órgão do Exército, o DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna).
O presidente da OAB aponta que Bolsonaro “reabriu feridas do país”, ao levantar um possível caso de tortura, incitando o ódio de um episódio que “o Brasil há muitos anos tenta superar”. Para Felipe, Bolsonaro “tem um claro (problema para) dividir o que é público do que é privado, e isso se dá na forma de comunicação dele. É um presidente que apresenta grandes desafios para a democracia brasileira”.
Bolsonaro será interrogado a respeito das acusações proferidas. “É muito importante que ele venha a público esclarecer de forma séria. De forma que seja compatível com o cargo que ele exerce, que é o de supremo mandatário da República”.
Felipe Santa Cruz tinha dois anos quando o pai foi declarado como desaparecido, processo reconhecido pelo Poder Judiciário. Para ele, a recuperação da democracia no Brasil foi uma forma de reparar a tragédia familiar. Devido a gravidade dos comentários de Bolsonaro, ele afirma estranhar “Um presidente da República que baseia toda a fala dele em preceitos cristãos, em Deus, que tem Deus no seu slogan de campanha, tenha condutas que são tão contra o que prega o pensamento cristão. Tão de ódio, raiva, rancor. E não de amor e solidariedade”.