O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, roubou a cena da cúpula do G7 ao chegar no sábado (20) ao Japão em um avião da França, após participar na véspera da cúpula da Liga Árabe, que tem entre seus membros nações pró-Rússia e neutras. Segundo a Agência Bloomberg, a presença do líder ucraniano deixou sob pressão o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que acabou não se encontrando com Zelensky.
Organizada às pressas, a visita de Zelensky fez com que os líderes do G7 divulgassem a declaração final um dia antes do previsto, na qual condenaram a Rússia pela invasão da Ucrânia e pediram à China, aliada de Moscou e que nunca condenou a invasão, que “pressione a Rússia para que encerre sua agressão” e “retire imediatamente, totalmente e sem condições suas tropas” do país do Leste Europeu. No comunicado, também alertaram contra a “coerção econômica”, que Pequim é acusada de fazer contra vários países.
Neste ano, as democracias mais ricas do mundo convidaram líderes de oito outras nações para participar do evento, incluindo Lula. O convite estendido também a Índia, Coreia do Sul, Indonésia, Comores (país na presidência rotativa da União Africana), Austrália, Vietnã e Ilhas Cook (atualmente à frente do Fórum das Ilhas do Pacífico) mostra a importância crescente do Sul Global na cena multilateral e a perda de poderio econômico do grupo econômico.
Com os convidados, o G7 também divulgou uma segunda declaração, com o tema de segurança alimentar, em que não há críticas à Rússia. No texto, os países afirmam que a guerra na Ucrânia agravou ainda mais a crise de segurança alimentar no mundo, dizendo que “apoiam uma paz justa e duradoura”. Durante a semana, diplomatas brasileiros haviam admitido o desejo de que o comunicado não se tornasse um “ato contra a Rússia” e, neste sábado, o Itamaraty avaliou o tom do texto como “adequado”.
Assim que chegou, o líder ucraniano deu início a uma série de encontros bilaterais com vários líderes mundiais, começando pelo primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, que o cumprimentou com um amigável: “Você conseguiu [vir]!”.
O presidente ucraniano, que tenta ampliar o círculo de apoio a seu país, também se reuniu com o francês Macron, o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, com os quais trocou abraços ou apertos de mão calorosos. Já com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, cujo país se nega a condenar a agressão russa na Ucrânia, o encontro foi mais contido, tendo início com um protocolar aperto de mãos.
A organização da reunião bilateral entre Lula e Zelensky não foi possível por dificuldade na conciliação das agendas dos dois líderes mundiais. O governo brasileiro sugeriu mais de um horário, mas não houve acerto.
Em entrevista, o presidente ucraniano confirmou a dificuldade. “Encontrei todos os líderes. Quase todos. Todos têm suas agendas próprias. Acho que é por isso que não pudemos encontrar o presidente do Brasil”. Questionado se ficou decepcionado por não ter conseguido realizar essa reunião, Zelensky respondeu: “Acho que ele que ficou decepcionado”. As informações são do jornal O Globo e da Agência Brasil.