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Presidente do Banco Central diz que retomará “bom e velho” tripé macroeconômico

Novo presidente do Banco Central falou durante transmissão de cargo. Segundo Goldfajn, nível baixo de inflação é um bem público. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O novo presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, sublinhou que a principal missão da autoridade monetária é assegurar a estabilidade, perseguindo uma inflação baixa e estável, e exaltou o que ele classificou de “velho e bom” tripé macroeconômico: câmbio flutuante, responsabilidade com as contas públicas e sistema de metas de inflação.

“É imporante destacar que a eficiência da política monetária [definição dos juros para conter a inflação] será tanto maior quanto bem forem sucedidos os esforços na implementação das reformas e da recuperação da responsabilidade fiscal”, disse Goldfajn durante cerimônia de transmissão do cargo de presidente do BC, na sede da instituição, em Brasília.

“Considero haver praticamente consenso substituir os efeitos da ‘nova matriz econômica’ pelo velho e bom tripé macroeconômico: responsabilidade fiscal, controle da inflação e câmbio flutuante”, completou.

Instituída pela equipe da presidenta afastada, Dilma Rousseff, a chamada nova matriz econômica é considerada uma opção mais “desenvolvimentista” ao tripé. Ela prevê o aumento de gastos públicos e uma maior intervenção do governo para estimular a economia, além de redução de juros. Um dos principais defensores da nova matriz é o ex-ministro da Fazenda Nelson Barbosa.

Já o tripé tem como base câmbio flutuante (redução das ações para estabilizar cotação do dólar, que passa a seguir as condiçõess do mercado), sistema de metas de inflação, com juros fixados de acordo com as metas pré-estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional, e responsabilidade fiscal (esforço do governo para conter gastos e reduzir endividamento).

Inflação baixa

Em seu discurso, Goldfajn disse ainda que é importante manter a inflação baixa porque o controle dos preços é um “bem público, conquistado pela sociedade há mais de 20 anos, após um período inflacionário que ninguém quer ver de volta ou admitir que possa retornar”.

“O bem-estar social proporcionado pela manutenção do poder de compra da moeda beneficia todos os cidadãos brasileiros. Não há crescimento sustentável e bem-estar social sem inflação baixa e estável (..) Nível baixo de inflação reduz incertezas, eleva capacidade de crescimento da economia e torna a sociedade mais justa. O imposto inflacionário é um dos mais regressivos que temos”, afirmou.

Ele voltou a dizer que buscará cumprir as metas de inflação plenamente, mirando em seu ponto central.

“Os limites de tolerância servem para acomodar choques inesperados da inflação, que não permitam volta em tempo hábil”, disse.

É atribuição do Banco Central calibrar a taxa básica de juros da economia para atingir metas pré-estabelecidas de inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Para 2016, a meta central é de 4,5%. Entretanto, existe uma banda, que permite que a inflação anual oscile entre 2,5% e 6,5% sem que o BC descumpra a meta. Para 2017, o objetivo central é de 4,5%, mas o teto é menor, não podendo a inflação superar a barreira dos 6%.

“Quando a inflação retorna ao centro da meta, é fundamental gerenciamento das expectativas, fator chave de sucesso para esse regime. É importante que expectativas indiquem no presente uma trajetória que preveja uma convergência para o centro da meta em um futuro não muito distante”, declarou Goldfajn.

A mais recente previsão do mercado financeiro aponta para inflação de 7,19% em 2016 e de 5,5% para 2017, ainda longe da meta central de 4,5%.

Cenário desafiador

Ilan Goldfajn avaliou que o atual cenário é “desafiador”, com nível de instabilidade econômica e política superiores à média histórica. Ele disse que o momento exige “grande atenção” para lidar com problemas “conjunturais e estruturais”, mas acrescentou ter “absoluta confiança na reversão do atual quadro”.

“Há de se buscar uma economia mais competitiva e justa. Uma economia que volte a crescer e a gerar emprego. Uma economia que o Brasil precisa e merece. Precisa ser gerida de forma consistente e previsível”, afirmou Goldfajn.

O novo presidente do BC disse ainda que o presidente em exercício, Michel Temer, estabeleceu como requisito, para tirar o status de ministro de Estado do cargo de presidente do Banco Central, enviar uma emenda constitucional que consolide a autonomia operacional e técnica na busca pelos objetivos de política monetária (meta de inflação), cambial e estabilidade do sistema financeiro.

“Também será importante definir autonomia orçamentária do BC”, acrescentou. (Alexandro Martello/AG)

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