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Presidente do Brasil a partir de 2023 provavelmente navegará num cenário externo bem distinto do que prevaleceu nas últimas décadas

Ambiente externo pode ser muito diferente daquele que prevaleceu nas últimas décadas. (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

O Banco Central (BC) brasileiro foi um dos que reagiu mais rápida e fortemente ao atual episódio de alta inflação que atinge inúmeros países mundo afora. Essa sem dúvida é uma vantagem que o próximo presidente terá, seja quem for – Roberto Campos Neto, presidente do BC, tem mandato por mais dois anos, e Lula já sinalizou que está contente com isso.

Mas independentemente do desempenho do BC em relação à inflação brasileira, o ambiente externo em que o novo governo vai navegar pode ser muito diferente daquele que prevaleceu nas últimas décadas.

Importantes analistas da cena econômica global consideram que uma nova era de inflação e juros mais altos no mundo chegou e pode ser duradoura.

Kenneth Rogoff, ex-economista chefe do FMI, vai por esse caminho em longo em denso artigo publicado na edição de novembro-dezembro da revista Foreign Affairs. Já Fernando Honorato Barbosa, economista-chefe do Bradesco, explora o mesmo tema em relatório divulgado na quinta-feira (27).

A atual narrativa sobre uma possível nova era de inflação e juros mais altos costuma remeter a dois parâmetros de sentido oposto. Em primeiro lugar, se pergunta o quão semelhante o momento atual é ao período que vai dos anos 70 ao início da década de 80, e que foi o de mais alta inflação após a normalização da economia global no pós-Guerra.

Outra questão é a de saber se de fato o mundo saiu em definitivo da fase que caracterizou as últimas décadas – e especialmente o período pós crise financeira global –, que foi um dos momentos de inflação e juros mais baixos do pós-Guerra.

Em relação à primeira pergunta, a resposta costuma ser “sim e não”. Nem tudo que estava presente na década de 70 em termos de fatores condicionantes da inflação e dos juros acontece agora, mas há, sim, semelhanças, como os fortíssimos choques: lá, o do petróleo e do fim do sistema de Bretton Woods de taxas de câmbio fixas, e agora os da pandemia e da guerra da Ucrânia.

Em seu artigo, Rogoff chama a atenção para outras similaridades em termos de políticas econômicas entre os dois momentos. Tanto nos anos 70 quanto no período recente até a atual disparada da inflação, ideias keynesianas de estímulo à economia sem maiores custos estavam em voga.

Nos anos 70, o Fed, BC dos EUA, e outros BCs relutavam em combater de forma muito drástica a alta da inflação, pelo temor de produzir recessão e desemprego muito agudos. Hoje, segundo o economista norte-americano, os BCs também mostram esse tipo de cautela, em boa parte pelo fato de terem sido enfraquecidos em sua legitimidade pelas fortes perdas do cidadão comum com a recessão provocada pela crise financeira global.

Em relação à segunda questão, sobre se o fim da era de inflação e juros superbaixos é para valer, o que se aponta é que mudanças na economia chinesa (que “exportou” desinflação para o resto do mundo por décadas) e a chamada “desglobalização” podem ser fatores estruturais daquela mudança.

Em seu relatório, Barbosa argumenta que “o benefício marginal de produtos industrializados chineses baratos para o mundo diminuiu muito”. As razões são que o crescimento baseado no êxodo rural chinês está praticamente concluído, a nova ênfase do Partido Comunista Chinês (PCC) em prosperidade compartilhada significa reconhecer direitos trabalhistas e dar mais liberdade à ação sindical, e, finalmente, o desafio econômico na atual fase de desenvolvimento da China é justamente o mercado doméstico, nos serviços e no problemático setor imobiliário.

Dessa forma, o cenário de um mundo com mais inflação e juros mais altos para o próximo mandato presidencial no Brasil parece muito plausível. Será um mundo no qual provavelmente desequilíbrios macroeconômicos, como o desarranjo fiscal estrutural brasileiro, se tornarão mais graves e destrutivos. (Fernando Dantas)

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