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Presidente do IBGE dobra a aposta e investiga servidores do próprio órgão

Gestão de Marcio Pochmann no centro da crise no IBGE.(Foto: Adriana Saraiva/Agência IBGE Notícias)

O presidente do IBGE acaba de inaugurar uma nova fase da crise em que o órgão está imerso desde o ano passado. Marcio Pochmann pediu, em novembro, que o MPF apurasse supostas irregularidades e conflito de interesses cometidos por servidores do órgão.

O próprio IBGE revelou o pedido num texto que está sendo tornado público. Nele, sugere que parte da movimentação dos funcionários contra ele teria se iniciado depois que ele solicitou análise da promotoria sobre o tema.

Dias atrás, 134 servidores (125 em cargos de chefia) assinaram uma carta aberta em repúdio a Pochmann. E quatro diretores oficializaram suas demissões desde o ínicio do mês — uma dupla de diretores deixou o IBGE. O principal descontentamento, entre outros, remete à decisão de Pochmann de criar a Fundação IBGE+, considerada pelos seus críticos uma espécie de organização paralela. Essa fundação tiraria o protagonismo do próprio IBGE nas pesquisas do País.

No fogo cruzado, o IBGE agora chama a atenção para a suposta existência de consultorias privadas de servidores, instaladas ilicitamente no órgão. Um dos exemplos que ele menciona é a Science (Sociedade para o Desenvolvimento da Pesquisa Científica). Segundo a presidência do órgão, servidores ativos e inativos fazem parte da firma, incluindo um de seus antecessores. Documentos enviados ao MPF, com menções a esses nomes foram trazidos a público junto com o texto.

Há ainda uma menção a um aporte de US$ 50 mil feito pelo próprio IBGE para o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). E, na sequência, um repasse do banco para a Science. O projeto em que o órgão estatístico desembolsou a quantia era referente a pesquisas ambientais, com foco em mudanças climáticas. No edital, de 2023, a Science teria indicado, conforme destaca Pochmann, a sede do IBGE no Rio de Janeiro como local de prestação de serviços da empresa — o que evidenciaria o uso inadequado das instalações e dos recursos do IBGE pelos servidores envolvidos.

Comunicado

Escreve a Presidência do IBGE no comunicado tornado público hoje:

“A despeito de toda a pressão sobre a Administração do IBGE, esta mantém presente compromisso e missão legal de apurar cabalmente toda e qualquer possível irregularidade dentro do IBGE (…). Não será dissuadida de sua missão legal de apurar toda e qualquer possível irregularidade dentro do serviço público no Instituto (…). Considera absurda insinuações de que a apuração de irregularidades possa ser qualificada como medida autoritária (…)”.

Por fim, também é dito que “a saída recente de diretores do IBGE não tem relação com as denúncias”. E que o caso não vai interferir, na avaliação de Pochmann, no trabalho e no rigor estatístico do órgão.

Origem da crise

A tensão entre o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras do IBGE (ASSIBGE) e o IBGE teve início no ano passado, depois da criação da Fundação de Apoio à Inovação Científica e Tecnológica do IBGE, chamada de IBGE+. O braço da instituição produz projetos e pesquisas para empresas privadas. No entanto, uma servidora relata que a concepção da Fundação IBGE+ pegou a todos do Instituto de surpresa.

“A gente tem enfrentado, desde setembro, problemas de diálogo e de participação, inclusive de desqualificação da gestão Márcio Pochmann dos técnicos da gestão. Fomos pegos de surpresa com o registro em cartório de uma Fundação Pública de Direito Privado, cujo nome era IBGE+”, contou Clician Oliveira, que faz parte do Conselho Curador da Fundação IBGE+ e membro da ASSIBGE.

“A gestão Pochmann fez uma proposta inovadora de abrir espaços de diálogos, no qual qualquer servidor poderia se inscrever. E aí criaram grupos de trabalho, e a gente fazia debates nesses grupos. Esses espaços produziram livros, registros, e aí ele [Pochmann] colocou esses documentos debaixo do braço, foi a Brasília e disse que o projeto Fundação Pública de Direito Privado IBGE+ era um resultado desse processo de diálogo com o corpo técnico. E não foi assim”, afirma Clician.

Em janeiro deste ano, os diretores Elizabeth Hypolito e João Hallak Neto pediram exoneração e deixaram os cargos devido ao descontentamento com a gestão de Pochmann.

Além disso, no último dia 15, o ASSIBGE divulgou um comunicado criticando a criação do IBGE+ e afirmando que o braço foi desenvolvido “paralelamente e em segredo”.

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