A presidente do México, Claudia Sheinbaum, afirmou nessa terça-feira (21) que é necessário manter “a cabeça fria” diante das primeiras medidas do recém-empossado presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ela buscou tranquilizar os cidadãos de seu país ao garantir que defenderá a soberania e independência mexicanas e que boa parte do “canetaço” relativo à imigração é semelhante às medidas implementadas em seu primeiro mandato (2017-2021).
“É importante manter a cabeça fria sempre, e nos referirmos aos decretos assinados, para além do discurso em si”, afirmou Claudia em entrevista coletiva, acompanhada de dois ministros. Ela também prometeu que seu governo agirá de maneira “humanitária”:
“Vocês têm de se referir às ordens executivas no momento. É por isso que eu digo que temos de ter calma e cabeça fria e dar um passo de cada vez”.
No mesmo dia em que Trump foi empossado como o 47º presidente norte-americano, o governo mexicano anunciou um plano para receber os imigrantes mexicanos deportados.
Batizado de “México te abraça”, o programa inclui apoio social, transporte e acesso a serviços de saúde e comunicação telefônica aos deportados, informou um jornal local. No início de janeiro, o México também abriu a possibilidade de receber imigrantes de outros países, após sinalizar inicialmente que pediria a Trump para mandá-los diretamente para seus países de origem.
Na segunda-feira (20), em ao menos três eventos diferentes, Trump assinou uma série de decretos relativos às suas promessas de campanha. Com um deles, rubricada na Arena Capital One, abarrotada com milhares de apoiadores, ele revogou quase 80 decretos do governo anterior.
Dentre as medidas está o fim de restrição das prioridades de deportação para pessoas que cometeram crimes graves, foram paradas na fronteira ou são consideradas uma ameaça à segurança nacional. E outra que permitia a reunificação de famílias separadas na fronteira.
Trump também declarou emergência nacional na fronteira com o México, medida que permitirá o envio de militares e a Guarda Nacional para a região. O republicano tomou uma medida semelhante em seu primeiro mandato, em fevereiro de 2019, a fim de ter acesso a uma quantia bilionária (e que o Congresso se recusara a liberar) para construir o muro na fronteira. Mas agora concedeu um poder a mais aos militares aos instruir o Departamento de Defesa a elaborar um plano para “selar as fronteiras e manter a soberania, integridade territorial, e segurança”.
O Congresso, ainda que de forma limitada, poderia intervir ao aprovar uma resolução conjunta para encerrar o status de emergência se acreditar que o presidente está agindo de forma irresponsável. Algo que parece distante no momento, já que os republicanos controlam tanto a Câmara dos deputados quanto o Senado. Trump afirma desde sua campanha eleitoral que realizará a maior deportação em massa da História americana, embora especialistas alertem sobre os desafios logísticos que a promessa representa.
O republicano também designou cartéis mexicanos como organizações terroristas, mas sem especificar quais entrarão na lista. De acordo com o jornal “The Washington Post”, os Estados Unidos já têm uma lei contra cartéis, mas uma designação de “organização terrorista” expandiria a capacidade do governo de processar os integrantes e aqueles que fornecem serviço ou outro tipo de suporte aos grupos.
A medida já foi ponderada em seu primeiro mandato, mas ficou na gaveta após pedido do ex-presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador (2018-2024), que concordou em cooperar em matéria de segurança a fim de rejeitar uma possível presença militar americana no seu território. Claudia também fez críticas anteriores à medida sob o mesmo argumento.
“Golfo da América”
Tudo isso sem contar o decreto que permite a mudança de nome do Golfo do México para “Golfo da América”, em referência aos Estados Unidos, e não ao continente. A medida concretiza uma ameaça feita pela primeira vez pelo republicano dias antes de sua posse. Na época, Claudia rebateu a provocação com bom humor, propondo que, na verdade, os Estados Unidos fossem chamados de “América Mexicana”, enquanto apontava para um mapa-múndi do século XVII em que aparece a região América do Norte com esse nome.
A Agência de Proteção do Meio Ambiente americana (EPA, na sigla em inglês) descreve o Golfo do México como um “vasto e produtivo corpo de água com tremendo valor em termos ecológicos, econômicos e sociais”. Também é um dos principais locais para a produção de petróleo. Sob o lema “Drill, baby, drill” (“perfure, querido, perfure”, em tradução livre), Trump promete aumentar os investimentos na produção do combustível fóssim para reduzir o custo da energia no país.
Apesar de não ter assinado ainda nenhum decreto impondo tarifas a produtos estrangeiros, Trump disse a repórteres que planeja impor taxas de 25% a produtos canadenses e mexicanos em 1º de fevereiro. O Canadá informou nessa terça-feira que “responderá com firmeza” se os Estados Unidos impuserem tarifas, conforme o primeiro-ministro Justin Trudeau. (Com informações da agência O Globo)