Domingo, 20 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 20 de janeiro de 2023
Os protestos e bloqueios de estrada não deram trégua na maior parte do Peru nesta sexta-feira (20), um dia após milhares terem se mobilizado também na capital pedindo a renúncia da presidente Dina Boluarte, que sucedeu ao esquerdista Petro Castillo após sua destituição por um autogolpe frustrado. Na noite de quinta-feira, Boluarte acusou os manifestantes que planejavam chegar ao Congresso e ao Palácio do Governo em Lima de tentar “desatar o caos para tomar o poder”, sinalizando resistência à pressão popular e uma baixa predisposição de tentar um diálogo com os manifestantes.
Fechado desde quinta-feira na região sul do Peru, o Aeroporto Internacional Alfredo Rodríguez Ballón, em Arequipa, manteve-se sem operações devido aos protestos contra a presidente, que já somavam ao menos 55 mortos e mais de 600 feridos. Os manifestantes tentaram invadir o terminal e entraram em confronto com os policiais pelo segundo dia consecutivo.
Os trens para a cidadela inca de Machu Picchu, a principal atração turística do país, em Cusco, foi interrompido por tempo indeterminado, informou a operadora local. Já as atividades do aeroporto de Cusco foram regularizadas no início da tarde desta sexta, mas dezenas de turistas estrangeiros e nacionais tiveram de esperar com suas bagagens, do lado de fora, a regularização dos voos, segundo imagens veiculadas na televisão peruana.
Um dia após choques deixarem 38 feridos entre policiais e civis na capital, os manifestantes voltaram a se reunir no centro da capital, na Praça Dois de Maio, por volta das 16h (18h no Brasil). De lá, um grupo partiu em direção ao Congresso às 17h18min (19h18min no Brasil), aos gritos de “Dina assassina!” e “Esta democracia não é uma democracia! Dina o povo lhe repudia!”, mas foram barrados pela polícia no cruzamento das avenidas Abancay e Nicolás de Piérola, a menos de 500 metros da sede do Legislativo.
“Este governo não nos representa, é ilegítimo para o povo aimará, por isso viemos aqui para fazer nossa voz de protesto ser ouvida”, disse à AFP Ricardo Mamani, de 47 anos. “Viajamos por 42 horas desde a região de Puno, estamos exigindo de uma vez por todas que esta senhora [Dina Boluarte] saia do caminho para que o povo esteja em paz.”
Segundo o último relatório da Superintendência de Transporte Terrestre de Pessoas, Cargas e Mercadorias (Sutrán) do Peru, mais de 100 estradas do país continuavam bloqueadas por protestos nesta sexta-feira.
“A luta continuará em todas as regiões até que se concretizem a renúncia de Boluarte e os demais pontos da agenda, como as eleições deste ano e o referendo da Constituinte”, declarou o secretário-geral da Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru (CGTP), Gerónimo López, um dos organizadores da manifestação.
“O dia de quinta-feira foi um sucesso. Os trabalhadores paralisaram suas atividades. Em Lima a marcha foi pacífica, mas a polícia começou os ataques com gás lacrimogêneo, balas de borracha e até armas de fogo”, acrescentou o sindicalista.
Na quinta, um antigo edifício parcialmente desabitado perto da praça San Martín foi incendiado, e as brigadas dos bombeiros continuaram trabalhando ontem para extinguir o fogo.
O Peru vive uma onda de protestos desde que Castillo foi preso após sua destituição, em 7 de dezembro. A crise também reflete a imensa lacuna entre a capital e as províncias pobres do Sul que apoiam Castillo, que é de origem indígena. Os habitantes dessas regiões viam sua eleição como uma forma de revanche contra o poder de Lima.
Após a marcha de milhares de pessoas e da eclosão de confrontos violentos no centro da cidade, Boluarte falou à nação na noite de quinta-feira numa mensagem transmitida pela televisão estatal, na qual alertou que “os atos de violência” de dezembro e janeiro “não ficarão impunes”.
No último domingo, o governo de Boluarte estendeu o estado de emergência por 30 dias em Lima, Cusco, Callao e Puno para deter os protestos, autorizando os militares a intervir juntamente com a polícia para proteger a ordem pública. Na quinta-feira, as regiões do Amazonas e La Libertad, ambas no norte, e Tacna, na fronteira com o Chile, foram incluídas. Com isso, quase um terço do país, que conta com 25 regiões, está sob efeito da medida até meados de fevereiro. As informações são do jornal O Globo e de agências internacionais de notícias.