O jantar organizado na quinta-feira (3) no Palácio da Alvorada, em Brasília, serviu para retomar uma “linha direta” entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Até o momento, a impressão no governo é de que o esforço não deve ser suficiente para reverter as possíveis derrotas do governo na próxima semana – quando o Congresso pode derrubar vetos de Lula ao Orçamento de 2024 e ao projeto das saidinhas de presos.
O desgaste entre as autoridades tinha atingido o ápice após o Executivo judicializar a desoneração da folha de pagamentos – aprovada pelo Congresso e mantida com a derrubada de vetos, mas que o governo ainda tenta derrubar.
O encontro no Alvorada teve dois momentos:
uma reunião “bilateral”, apenas entre Lula e Pacheco, que começou perto das 19h e foi quase até as 22h;
uma reunião “ampliada”, em que Lula chamou ministros e senadores para “quebrar o clima”.
Conforme relatos, o jantar com churrasco, arroz e vinagrete cumpriu o papel de “desanuviar” e “descontrair”.
Nesse segundo momento, Lula não puxou assuntos espinhosos ou pautas específicas com Pacheco. Não falaram sobre política econômica ou sobre o ministro Fernando Haddad (Fazenda), e nem “discutiram a relação”.
Entre os presentes estavam o líder do governo no Senado, Jaques Wagner, e ministros como Renan Filho (Transportes), Rui Costa (Casa Civil) e Ricardo Lewandowski (Justiça).
“Ele [Lula] foi muito solícito, muito agradável. O presidente Rodrigo Pacheco também estava muito feliz e eu acho que ambos têm a convicção da importância que têm para o equilíbrio fiscal e para o bom funcionamento da nossa economia”, disse Renan Filho.
Ao longo da última semana, Pacheco vinha se recusando a atender ministros em meio ao estresse com o governo Lula.
Na semana passada, inclusive, o presidente do Senado cancelou participação em um evento com Lula em Nova Lima (MG), na região metropolitana de Belo Horizonte.
A interlocutores, Pacheco disse que precisava marcar posição em defesa da desoneração da folha de pagamentos dos 17 setores intensivos em mão de obra e dos pequenos municípios.
Segundo o relato de um ministro, a relação estava tão estressada que Lula tentou falar com Pacheco através de emissários como o ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias. Sem sucesso.
Em um dado momento, várias autoridades do Executivo na mesma sala tentaram ligar para o presidente do Senado – que não atendeu.
As duas queixas principais de Pacheco, em resumo, são:
o fato de ele ter “segurado” a próxima sessão do Congresso Nacional para analisar vetos presidenciais e, no meio do caminho, ter sido surpreendido com a judicialização da desoneração;
as críticas feitas por Fernando Haddad em entrevista recente, quando o ministro cobrou responsabilidade fiscal do Congresso.