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Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump reitera ameaças econômicas contra a Dinamarca após declarações sobre aquisição da Groenlândia

Premier dinamarquesa informou que ameaças de introduzir tarifas punitivas foram mantidas por Trump. (Foto: Reprodução)

A situação continua “séria” após as declarações do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a aquisição da Groenlândia, considerou, nessa quinta-feira (16), a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, no dia seguinte a uma conversa telefônica com o republicano. Os EUA são o maior mercado de exportação da Dinamarca e, segundo a premier, Trump não teria retirado suas ameaças de introduzir tarifas punitivas se Copenhague não abrir mão da ilha no Ártico.

Em uma reunião de emergência sob condições de “estrita confidencialidade”, Frederiksen informou o parlamento dinamarquês nesta quinta-feira sobre o que ela discutiu com Trump durante uma conversa de 45 minutos no dia anterior. Ela também fez um breve comentário aos jornalistas:

“Trump não retirou suas ameaças de introduzir tarifas punitivas. O lado americano sugeriu que, infelizmente, poderia haver uma situação em que cooperaríamos menos do que fazemos hoje na esfera econômica”, afirmou durante uma entrevista coletiva.

Na véspera do Natal, o presidente eleito, cujo filho visitou brevemente a Groenlândia como “turista”, declarou que o controle deste território autônomo dinamarquês é “uma necessidade absoluta para a segurança nacional e a liberdade no mundo todo”, sem descartar o uso das Forças Armadas nem o aumento de tarifas sobre produtos dinamarqueses para alcançar seus objetivos.

Os Estados Unidos são o maior mercado de exportação e o principal parceiro comercial não europeu da Dinamarca. Em 2022, a Dinamarca exportou US$ 6,46 bilhões (R$ 38,96 bilhões) para os EUA em 2023, de acordo com o banco de dados Comtrade das Nações Unidas sobre comércio internacional.

“Isso [aumento das tarifas] não é algo que estamos buscando de forma alguma”, disse Frederiksen à imprensa, acrescentando que cabe à Groenlândia decidir sobre sua independência. “Só nos tornamos mais fortes quando trabalhamos juntos e não queremos nenhum conflito com os americanos. A situação é grave”, finalizou.

O primeiro-ministro da Groenlândia, Múte Egede, reagiu aos comentários de Trump dizendo que o território não está à venda. “A Groenlândia não está à venda”, repetiu Egede nas últimas semanas, embora, na segunda-feira, tenha dado declarações se mostrando favorável ao fortalecimento dos laços com Washington.

Recursos minerais

Com uma área de 2,2 milhões de km² e coberta por gelo em 80% de sua extensão, a Groenlândia desperta a cobiça de Trump por seus supostos recursos minerais e sua importância geoestratégica. Conhecida como “tesouro do Ártico”, estima-se que a região abrigue 13% das reservas de petróleo não descobertas do mundo, o que significa que pode conter até 90 bilhões de barris de petróleo, 47,2 bilhões de metros cúbicos de gás natural e 44 bilhões de barris de gás natural liquefeito (GNL), segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos. A ilha também é rica em terras raras, fundamentais na cadeia de produção de chips de última geração, um mercado hoje dominado pela China.

Base estratégica

Além disso, a Groenlândia desempenha um papel vital na defesa dos EUA. A Base Espacial Pituffik (anteriormente conhecida como Base Aérea de Thule), localizada no noroeste da Groenlândia, a menos de 1.600 quilômetros do Polo Norte, é a base mais ao norte das Forças Armadas dos Estados Unidos, e suas instalações de radar constituem um importante centro de alerta antecipado para o sistema de defesa antimísseis americano, explicam Heather A. Conley e Jon Rahbek-Clemmensen em artigo publicado pelo Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos (CSIS, na sigla em inglês), com base em Washington.
A Groenlândia também está localizada na rota mais curta da América do Norte para a Europa. E a possibilidade de usá-la como rota de navegação devido ao derretimento de suas geleiras reduziria em 40% o tempo de viagem entre a Ásia e a Europa, poupando cerca de 14 dias aos navios.

Fator Otan

Enquanto alguns veem nos comentário de Trump uma “forma de imperialismo”, muitos analistas argumentam que eles devem ser encarados mais como uma tentativa de esticar a corda para obter vantagens em negociações futuras do que como declarações políticas ou ameaças de fato. Ainda sim, não têm precedentes. Nunca antes um chefe de Estado eleito nos EUA cogitou publicamente o uso da força militar ou outras medidas coercitivas contra a soberania de aliados.

O flerte expansionista de Trump esbarra ainda em algo maior e mais complexo: a Otan (a Organização do Tratado do Atlântico Norte). A Groenlândia, maior ilha do mundo, tem um governo autônomo, mas faz parte do Reino da Dinamarca, que, assim como os EUA, é sócio-fundador da aliança militar ocidental baseada nos princípios de defesa coletiva e assistência mútua.

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