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Presidente eleito herdará cenário mais adverso na economia

A economia está surpreendendo positivamente nessa reta final para o primeiro turno das eleições. (Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil)

A economia está surpreendendo positivamente nessa reta final para o primeiro turno das eleições, com mais crescimento e menos desemprego, mas seja quem for o vencedor final da disputa deverá encontrar uma situação bem mais difícil quando tomar posse.

O Produto Interno Bruto (PIB) poderá se expandir a uma taxa de até 3% neste ano, com a ajuda de fortes estímulos fiscais e da reabertura da economia após o pior da pandemia. Há bons indícios de que as reformas econômicas feitas desde o governo Michel Temer, como a trabalhista e previdenciária, estão finalmente dando os primeiros resultados.

O quadro, no entanto, promete ser bem diferente em 2023, diante de um ambiente internacional mais desfavorável. A expansão da economia brasileira deverá se desacelerar para 0,5%, à medida que acabam os efeitos dos anabolizantes fiscais – medidas adotadas pelo governo para incentivar a atividade e baixa a inflação às vésperas da eleição – e começa se transmitir de forma preponderante o aperto monetário feito pelo Banco Central.

“O cenário para a economia mundial é muito difícil”, avalia o ex-presidente do BC Affonso Celso Pastore, da consultoria A.C. Pastore & Associados. “No Brasil, a política fiscal expansionista, por enquanto, está ganhando a queda de braço contra a restrição monetária, mas já há sinais de que a situação está mudando.”

Muitos analistas econômicos acreditam que, passada a eleição, o novo governo terá a chance de dar uma mensagem de credibilidade e impulsionar a economia. Para tanto, teria que superar o clima de polarização política, construir uma nova âncora fiscal e retomar a agenda de reformas e de concessões e adotar uma política ambiental mais responsável.

“Se o governo conseguir dar uma mensagem correta aos mercados, vai criar um grande alívio”, diz o ex-secretário do Tesouro Nacional Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual. “Os juros longos, que estão perto de 6% ao ano, vão recuar.”

Os desafios, no entanto, não são triviais. A despeito de os indicadores fiscais terem se saído melhores do que o esperado depois da pandemia, com superávit primário, uma inédita queda de gastos públicos durante o governo Bolsonaro e queda de dívida, o ponto de partida no próximo ano é bem mais desfavorável.

O projeto de Orçamento enviado pelo governo é considerado irrealista pelos especialistas em contas públicas, porque se baseia em premissas otimistas para o PIB, que inflam receitas esperadas e deixa de fora despesas que são praticamente certas, como prorrogação do Auxílio Brasil de R$ 600. Ainda assim, prevê a volta do déficit primário e do crescimento da dívida pública, com encargos de juros bem mais elevados.

Será preciso, ao longo do próximo governo, fazer um ajuste fiscal estimado em 2,5 pontos percentuais do PIB, com cortes e despesas e aumentos de receitas estimados em R$ 250 bilhões.

“O novo governo começa com um Orçamento muito descolado das demandas sociais e com um acúmulo de distorções provocado pela contenção de despesas na boca do caixa e represamento de reajuste do funcionalismo, em função da crise fiscal”, diz a ex-secretária da Fazenda de Goiás Ana Carla Abrão Costa, head do escritório da consultoria Oliver Wyman no Brasil. “Será preciso um programa de revisão de gastos, que olhe cada linha do Orçamento, inclusive as despesas obrigatórias.”

Como herança positiva, o novo governo recebe a agenda de reformas dos últimos anos, que dá os primeiros resultados. A flexibilização de regras trabalhistas tem permitido aumento de contratações no mercado formal e queda da taxa de desemprego, embora economistas estejam debatendo os limites que isso possa continuar sem provocar uma inflação de salários.

O desmonte do sistema de crédito subsidiado, com a criação da Taxa de Juros de Longo prazo (TLP) e a devolução ao Tesouro de aportes de capital feitos nos bancos públicos, está abrindo espaço para o florescimento do mercado de capitais, onde as empresas estão tomando financiamentos.

A expansão dos investimentos foi um destaque positivo nas Contas Nacionais do segundo trimestre, favorecida pelos leilões de concessões feitos desde 2016 e reformas microeconômicas, como a Lei do Saneamento e estímulos à inovação financeira da agenda BC.

Esses ganhos refletem, de forma defasada, as medidas que foram adotadas há muitos anos, a partir do governo Temer. Desde 2021, a agenda de reformas mudou de direção, o que pode comprometer o desempenho da economia no médio prazo, diz o ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda Marcos Lisboa, presidente do Insper.

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