Quarta-feira, 30 de outubro de 2024
Por Redação O Sul | 30 de outubro de 2024
Em meio a uma troca pública de críticas por conta do resultado das eleições municipais com o ministro da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência, Alexandre Padilha, a presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann, concluiu que o partido precisará fazer uma aliança muito mais ao centro para conseguir reeleger o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2026.
Ela também citou o crescimento da direita nos últimos anos e o fato de o PT ter apoiado candidaturas de legendas aliadas — por ser de um governo de coalizão — como alguns dos fatores para o avanço tímido nas disputas locais.
Apesar do crescimento no número de prefeituras sob o comando da sigla — passando de 183 em 2020 para 252 em 2024 —, Gleisi lembrou que o bom desempenho nas eleições municipais “nunca foi o forte do campo da esquerda”. O partido ficou atrás do PL do ex-presidente Jair Bolsonaro e conquistou apenas uma capital, Fortaleza.
“Há um crescimento da extrema-direita e precisamos nos preparar para esse enfrentamento. Óbvio que havia expectativa de o PT ter números melhores por termos a Presidência da República. Nunca conquistamos a maioria dos municípios, embora tenhamos administrado muitos. A verdade é que temos um projeto nacional, mas precisamos melhorar enquanto partido e governo”, disse Gleisi que atendeu a jornalistas durante reunião da executiva do PT.
“Acho que vamos conseguir avançar para 2026 além do que está. Devemos fazer uma aliança muito mais ao centro, ampliar, para reeleger o presidente Lula”, acrescentou.
A dirigente petista destacou que o PT faz parte de um governo de coalizão e que o partido pagou um preço por isso. “Muitos aliados no plano nacional disputam conosco no plano local.”
Também presente na reunião da Executiva, o secretário de Comunicação do PT, Jilmar Tatto (SP), avaliou que o governo Lula esteve desorganizado politicamente para faturar sobre suas ações nas eleições municipais. “Parece que tem ministro que está jogando futebol de várzea. Sem estratégia, no improviso”, afirmou o petista.
Para ele, faltou estratégia política do governo e houve ministros, como o das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, que tiraram fotos com candidatos adversários do PT nas disputas para prefeitura. Também houve problemas, na avaliação dele, em relação às agendas dos ministros nas campanhas e de ganho político com as ações do governo federal nas cidades.
Padilha, por sua vez, defendeu que o PT faça avaliação profunda do resultado das eleições. Para ele, a legenda está na zona de rebaixamento desde 2016, quando reduziu de tamanho.
“O PT é o campeão nacional das eleições presidenciais, mas, na minha avaliação, não saiu ainda do Z4 [zona de rebaixamento] que entrou em 2016 nas eleições municipais. Teve conquistas importantes [de lá para cá], elegeu [prefeitos em] cidades importantes nesse segundo turno, mas ainda tem um esforço de recuperação. Eu acho que o PT vai fazer uma avaliação sobre isso, certamente sobre esse resultado, sobre como voltar a ser um partido com mais protagonismo, sobretudo nas grandes cidades, nas médias cidades”, disse.
Horas depois, Gleisi foi às redes sociais e reagiu à fala do ministro. “Ofender o partido, fazendo graça, e diminuir nosso esforço nacional não contribui para alterar essa correlação de forças.”
Na opinião de Tatto, o PT acertou, do ponto de vista da tática eleitoral, ao retirar candidaturas em cidades importantes para fazer alianças com candidatos mais ao centro, e deu como exemplo a reeleição de Eduardo Paes (PSD) no Rio de Janeiro. Mas pecou em São Paulo, maior cidade do País, o que deu um exemplo errado para outros municípios, como Porto Alegre.
Gleisi discorda de correligionários que classifiquem como equivocada a decisão do PT de apoiar a candidatura de Guilherme Boulos (PSOL) à Prefeitura de São Paulo. O deputado foi derrotado pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB).
“[Boulos] Era um quadro que cumpria o que queríamos para a candidatura em São Paulo. Mostrava que tinha competitividade. Eu me pergunto: quem do PT iria disputar? Tinha que ser Boulos, foi o melhor nome que nós tivemos, teve um desempenho impressionante com coragem, com ousadia e em nenhum momento deixou de fazer o combate”, disse Gleisi. “Não podemos esquecer que Boulos esteve conosco nos piores momentos, no momento da prisão do Lula, do impeachment da Dilma [Rousseff]. Ele poderia muito bem fazer uma disputa política conosco quando estávamos enfraquecidos. Esse tipo de coisa a gente não pode esquecer na política.”
Sobre o futuro, o secretário de Comunicação do partido também comentou que há problemas a serem enfrentados até a próxima eleição presidencial. Há dificuldades, listou, de relacionamento com o eleitorado evangélico, e com temas como o empreendedorismo, as novas formas de trabalho e a segurança pública.