Segunda-feira, 28 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 14 de fevereiro de 2023
Para Gleisi Hoffmann, a decisão de manter o atual patamar da taxa de juros – hoje em 13,75% ao ano – vai contra a tendência internacional e afeta sobretudo os mais pobres
Foto: Antonio Cruz/Agência BrasilA presidente do PT, Gleisi Hoffmann, subiu o tom nas críticas à gestão do Banco Central, minimizou os alertas sobre risco fiscal no país e disse que o mercado financeiro é “antiquado e atrasado”. Em discurso do lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, disse que o atual patamar da Selic atrapalha o desenvolvimento e a geração de empregos.
“Está na hora de enfrentarmos este discurso mercadocrata de que temos risco fiscal. Qual risco? De não pagar a dívida? Mentira. Nossa dívida é toda em reais, em uma proporção razoável do PIB. Ainda temos as reservas internacionais deixadas pelo PT. Eles mentem. E o Banco Central, uma autarquia do Estado brasileiro, corrobora com a mentira impondo um arrocho de juros elevados. Isso tem que mudar”, disse Gleisi, sob aplausos da plateia de militantes em evento em comemoração aos 43 anos do PT, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília.
Para a presidente do PT, a decisão de manter o atual patamar da taxa de juros – atuamlente em 13,75% ao ano – vai contra a tendência internacional e afeta sobretudo os mais pobres. “Temos um mercado antiquado, atrasado, que não percebeu ainda as mudanças internacionais. Temos que parar de ter medo de discutir política econômica. Seja ela monetária, fiscal ou cambial”, afirmou.
Desigualdades
Diante das desigualdades sociais e de 33 milhões de brasileiros que passam fome, a presidente do PT entende que é “papel irrecusável” do partido estabelecer debate crítico das políticas do novo governo, inclusive no campo econômico.
“Debate que senhores poderosos querem interditar. Não há técnica nem razão inquestionável nas decisões econômicas se elas não estiverem consoantes com as decisões políticas. Se a prioridade é crescimento, geração de empregos e oportunidades, é neste sentido que deve caminhar a política econômica”, acrescentou.
Explicações de Campos Neto
A cúpula do PT aprovou, nesta segunda-feira (13), uma resolução em que orienta as bancadas do partido no Senado e na Câmara a convocar o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, para que ele explique a política monetária da instituição. Segundo o Valor apurou, o documento será apresentado nesta quarta-feira (15) provavelmente às comissões de Assuntos Econômicos (CAE), do Senado, e Finanças e Tributação (CFT), na Câmara. Em paralelo, parlamentares de esquerda estão criando uma “Frente Parlamentar contra os Juros Abusivos”.
Campos Neto, no entanto, não pode ser convocado pela CFT, apenas convidado, segundo entendimento da Secretaria-Geral da Mesa Diretora da Câmara. No caso da CAE, a lei que confere autonomia ao BC estipula que ele deve comparecer uma vez por semestre ao Senado para apresentar, em arguição pública, os relatórios de inflação e de estabilidade financeira, “explicando as decisões tomadas no semestre anterior”.
Efeitos políticos
Os efeitos da resolução do PT, portanto, são mais políticos do que práticos. O documento foi confeccionado em meio à crise entre Campos Neto e o Palácio do Planalto, amplificada pelas críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva às altas taxas de juros. Diferentemente do convite, a convocação, se aprovada, obrigaria o presidente do BC a comparecer à audiência.
No último dia 1º de janeiro, o BC manteve a taxa Selic em 13,75%, apesar das pressões de Lula e da expectativa de queda. Na ocasião, o Comitê de Política Monetária (Copom) justificou a manutenção dos juros relativamente altos ao alertar para a conjuntura “particularmente incerta no âmbito fiscal e com expectativas de inflação se distanciando da meta em horizontes mais longos”.
A frase, publicada após a primeira reunião do colegiado comandando por Campos Neto no governo Lula, aumentou o mal-estar entre a instituição e o governo.
Nesta quarta-feira (15), o Sindicato dos Bancários, ligado à CUT, fará manifestação em frente as sedes do Banco Central em São Paulo e Brasília pela redução dos juros e com a palavra de ordem “Fora Campos Neto”. O protesto foi divulgado pelo líder do PT na Câmara, deputado Zeca Dirceu (PR), em suas redes sociais.
Zeca afirmou que o ato é dos sindicatos, mas que achou relevante divulga-lo. “O problema maior são as decisões do BC e suas consequências desastrosas. Se as decisões forem boas e principalmente se os resultados forem positivos para quem passa fome ou está desempregado, tem pouca importância o nome do presidente do BC e se o BC é ou não assim ou assado”, disse.