Um dos pivôs da investigação do FBI (polícia federal norte-americana) que levou à prisão sete dirigentes da Fifa (entidade máxima do futebol), o empresário José Hawilla, 71 anos, aceitou fazer delação premiada por sentir-se pressionado pelo fisco dos EUA. Com a iniciativa, livrou-se do risco de prisão imediata. Ele é dono de uma das principais empresas de marketing esportivo das Américas, a Traffic – com sede em quatro países.
Réu confesso, assumiu em dezembro culpa por extorsão, conspiração por fraude eletrônica, lavagem de dinheiro e obstrução da Justiça. E aceitou restituir 151 milhões de dólares (479,8 milhões de reais) – 25 milhões de dólares (79,4 milhões de reais) já desembolsados.
Em troca, Hawilla pode circular livremente pelo território norte-americano, embora esteja à disposição da Justiça – e, claro, possa ser condenado à prisão ao final do processo. “Conforme o próprio termo que o Departamento de Justiça [dos EUA] divulgou, ele é um réu confesso. Ele confessa, apoia as investigações e presta esclarecimentos”, disse o advogado do empresário, José Luís de Oliveira Lima.
Hawilla conviveu com um câncer muito agressivo, conforme Lima, mas está curado. O empresário tem residência em Miami, mas no momento não estaria na cidade da Flórida. “Ele vive livremente pelos Estados Unidos. Não é verdade que foi preso, usa tornozeleira. Apenas para voltar ao Brasil precisa pegar um autorização das autoridades americanas.”
Se retornar ao País – nesse caso não está definido quando isso ocorrerá – e for solicitado pela Justiça brasileira a dar esclarecimentos, “Hawilla o fará imediatamente”. O advogado disse também que o dinheiro a ser pago será feito por meio da Tusa (Traffic Sports USA Inc.), empresa que não tem ligação com a Traffic brasileira.
Indiciamentos
O chefe da unidade de investigações da Receita Federal dos EUA, Richard Weber, afirmou estar “bastante confiante de que teremos mais uma rodada de indiciamentos” no caso sobre corrupção no futebol. “Nós acreditamos fortemente que existem outras pessoas e entidades envolvidas em atos criminosos”, disse Weber ao jornal The New York Times.
Carreira
Demitido da Rede Globo em São Paulo em 1979, Hawilla chegou a vender cachorro-quente até fundar a Traffic, no ano seguinte. Começou vendendo placas publicitárias em pontos de ônibus, depois passou a atuar na comercialização dos direitos de TV. Em 1987, trabalhou com a Copa América.
Com a chegada de Ricardo Teixeira ao poder na CBF, em 1989, a Traffic passou a intermediar patrocínios para a entidade. Tornou-se, e ainda é, influente na Confederação Sul-Americana de Futebol e fez negócios com a Fifa. A Traffic tem dois times de futebol – Deportivo Brasil e Estoril (Portugal).
Também tem total ou parcialmente direitos de transmissão e patrocínio de várias competições: Copa América; Copa do Brasil; Eliminatórias da Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caribe; Copa Libertadores; Copa Sul-Americana; e Liga Norte-Americana de Futebol. O empresário, nascido em São José do Rio Preto (SP), fundou a TV TEM em 2003, no interior de São Paulo. Hoje, a emissora cobre 318 cidades. Suas empresas faturam 500 milhões de dólares por ano, e seu patrimônio é estimado em 1 bilhão de reais, segundo o mercado. (AE e Folhapress)