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Preta Gil celebra a cura do câncer e o amor-próprio após divórcio: “Estava dormindo com o inimigo”

"Depois de tudo o que passei, não peço mais nada", diz a cantora. (Foto: Alex Santana)

Preta Gil sabia exatamente o que fazer quando o relógio marcou meia-noite, no último domingo (31). Cercada pela família e pelos amigos mais íntimos, em Salvador, a cantora, de 49 anos, estava totalmente focada em energizar o corpo e a mente.

“Depois de tudo o que passei, não peço mais nada. O que faço é trabalhar arduamente para estar preparada para o que der e vier. É como precisamos ser. Acabamos criando muita expectativa, querendo concretizar as coisas, e nada disso importa, na realidade. Tudo pode mudar.”

Os primeiros alertas de que a vida da cantora tomaria rumos inesperados ao longo do ano que chegou ao fim começaram a soar justamente na noite da passagem de 2022 para 2023.

Atração da virada em Copacabana com seu bloco de carnaval, ela apresentou um quadro de hipertensão e cefaleia e precisou ser medicada. No dia 4 de janeiro, passou mal novamente e teve que ser internada até que, cinco dias depois, veio o diagnóstico definitivo: estava com um câncer colorretal.

“Tenho um adenocarcinoma na porção final do intestino. Inicio meu tratamento já na segunda-feira e conto com a energia de todos para seguir tranquila e confiante”, anunciou a cantora, no dia 10 de janeiro, em uma nota postada na forma de imagem no Instagram. Como legenda, usou uma singela frase que hoje soa profética: “vai ficar tudo bem”. A cura foi anunciada por ela, por meio de um vídeo publicado na mesma rede, no último dia 11.

Chegar até aqui, ela reconhece, não foi fácil. “O ano foi de muito sofrimento. Uma dor visceral. Em muitas horas, pensei: ‘Não vou aguentar…’. E, realmente, achei que não fosse suportar tanta dor, em todos os sentidos. Dor física, dor na alma, dor no coração”, conta.

“É por isso que falei tanto sobre a importância da saúde mental nos últimos meses. Não é fácil passar pelo que passei e continuar sorrindo, sendo positiva. Fui salva pela minha fé e pelo amor dos meus amigos e da minha família. Ter uma rede de apoio é muito importante.”

Ao receber o diagnóstico de câncer, mostrou todos os passos do tratamento nas redes, como imagens em que aparecia fragilizada sobre a cama do hospital e vídeos gravados durante a radioterapia. “É uma doença que causa vergonha. Ainda tem muita gente que trata um câncer em segredo”, conta. “Precisamos tirar esses estigmas, porque o amor que recebemos num momento como este é um dos elementos de cura.”

Foi assim até mesmo com um dos procedimentos mais delicados do tratamento: o uso de uma bolsa de ileostomia por três meses, cuja remoção total se deu em dezembro, na última cirurgia à qual foi submetida. Apelidado por ela de “Angel”, o dispositivo era exibido com naturalidade em fotos de biquíni no Instagram.

“Foi uma etapa muito difícil, e eu rejeitava a bolsa no começo, até entender que tinha, na verdade, salvado a minha vida. Comecei a pesquisar sobre o assunto e vi que havia muitos estigmas sobre isso também. Como sempre fui muito honesta com a minha imagem, decidi não escondê-la. Quis mostrar que não sentia vergonha.”

Durante o tratamento, Preta precisou olhar com coragem também para a vida conjugal e dar fim a um casamento de oito anos, em abril do ano passado. O motivo inicial foi a negligência do ex-marido perante a dura rotina hospitalar. Mas, duas semanas depois da separação, ela descobriu que vinha sendo traída havia sete meses.

“A gente se descabela, sofre e chora. Mas, quando o tempo vai passando, entende as coisas”, desabafa. “Tive a oportunidade de me curar não apenas de um câncer, mas de alguns cânceres. Agradeço a Deus por ter me livrado de uma pessoa monstruosa com quem dividi a cama. Estava, literalmente, dormindo com o inimigo.”

Para tomar as providências que um divórcio exige, a cantora ainda precisou falar com o ex algumas vezes, antes de bloqueá-lo definitivamente. Nessas ocasiões, teve que lidar com tentativas de uma inversão de narrativa empenhadas por ele.

“Queria me culpar, dizendo que o fiz ser cancelado e perder oportunidades de trabalho”, conta a cantora. “Agora, você veja! A crueldade não acabou. Viajou com a amante enquanto eu estava numa cama de hospital, tratando de uma septicemia (Preta teve uma infecção grave enquanto fazia quimioterapia), e eu que o expus?”

Falar sobre o assunto, segundo ela, a faz reviver a dor da situação, mas também a ajuda a superá-la. E a conversa vai além do âmbito pessoal: a cantora acredita pautar, mais uma vez, um importante debate social.

“Muitas mulheres sentem vergonha quando passam por uma situação como essa. Mas temos que entender o quanto precisamos nos amar em primeiro lugar e podemos, sim, viver só. Passei a maior parte do tratamento sem ter um parceiro, mas cheia de amigos e familiares. Não é preciso um homem ao seu lado para curar você.”

A traição, diz, foi sentida no âmago da família Gil, já que o ex sempre foi acolhido por todos. Mas quem estava próximo encontrou nas próprias atitudes da cantora uma fonte de inspiração. “Foi um ano difícil para todos nós”, define Flora Gil, madrasta de Preta, considerada por ela uma “segunda mãe”.

“Ficamos preocupados sobre como seriam os efeitos de tanta química no corpo. Foram dias extremamente difíceis, tristes e, por vezes, cruéis. Mas ela superou cada grau de dificuldade e venceu. Sempre digo à Preta que ‘dia de pouco é véspera de muito’. Então, 2024 virá cheio de axé, saúde e amor.”

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