Sexta-feira, 27 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 19 de maio de 2023
O IBC-Br, considerado uma prévia do PIB, foi divulgado pelo Banco Central
Foto: DivulgaçãoO Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), visto como uma prévia do PIB, registrou alta de 2,41% no primeiro trimestre de 2023, a maior para o período desde 2010. No mês de março, houve queda de 0,15%, na comparação com fevereiro. O resultado mensal foi um pouco melhor que o esperado pelo mercado, que projetava retração de 0,30%.
Os dados divulgados nesta sexta-feira (19) mostram resiliência da atividade econômica do país, no momento em que o BC busca o controle da inflação.
Conforme a série histórica do Banco Central, o primeiro trimestre de 2010 teve alta de 3,52% e desde então o índice não havia registrado uma elevação próxima dessa base nos três primeiros mês do ano. Quando são considerados todos os trimestres anteriores, a expansão trimestral anunciada hoje foi a maior desde o quarto trimestre de 2020, que registrou alta de 3,93%.
Para Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, o resultado do primeiro trimestre do ano é explicado por fatores como o impulso econômico do carnaval no mês de fevereiro, o nível de atividade econômica no setor de serviços, além do elevado crescimento da safra agrícola.
“É um índice muito bom, acredito que o mercado foi surpreendido positivamente. Destaco o Carnaval como variável importante. As pessoas ficaram por dois anos sem essa festa popular e nós vimos uma retomada forte das atividades de serviço”, avalia Argenta.
O impulso fiscal é outro fator para o resultado do trimestre, na avaliação de Mauro Rochlin, coordenador do MBA de Gestão Estratégica e Econômica de Negócios da FGV. Ele cita, por exemplo, a reformulação do Bolsa Família que elevada o consumo da população, ao atingir cerca de 20 milhões de lares – conforme dados do Ministério do Desenvolvimento Social.
Surpresa de fevereiro
Nos dados sem efeitos sazonais, em março o IBC-Br teve alta de 5,46%, na comparação com o mesmo mês do ano anterior – bem acima das estimativas da XP Investimentos, em 4,2%. No acumulado em 12 meses, o avanço foi de 3,31%.
“Além do forte desempenho de setores menos sensíveis ao ciclo econômico (agropecuária e indústria extrativa como protagonistas), o consumo das famílias mostra resiliência em meio ao aumento da renda real disponível (tendo em vista a recuperação do mercado de trabalho e as maiores transferências do governo)” diz o relatório da XP.
No último levantamento, houve surpresa com alta de 3,32% em fevereiro ante janeiro, o que levou bancos e consultorias a revisarem para cima as projeções de crescimento econômico no primeiro trimestre e até no ano fechado. Na divulgação de hoje, o número de fevereiro foi revisado para 2,53%.
O índice do Banco Central, assim como o PIB divulgado pelo IBGE, incorpora estimativas para áreas como indústria, agropecuária, serviços, mas não considera o lado da demanda – que é mensurado no cálculo do Produto Interno Bruto.
Além de “prever” o direcionamento do PIB, divulgado pelo IBGE, o IBC-Br é também referência para a política monetária do Banco Central, na definição da taxa básica de juros. A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que define a política monetária, será no dia 21 de junho.
O dado positivo do índice econômico pode se refletir em continuidade do aperto monetário. O crescimento mais forte da economia tem influência do setor de serviços, que está sendo analisado com lupa pelo Banco Central. Uma demanda crescente em serviços reforça a premissa de que a batalha contra a inflação não foi vencida.
Próximos meses
A perspectiva para a atividade econômica é de crescimento marginal e “cada vez menos intenso”, na avaliação de Carla Argenta, da CM Capital.
“Ao longo dos próximos meses temos impactos que vão mais no sentido arrefecimento no nível de atividades. O mercado de trabalho, por exemplo, apesar de resiliência, não cresce mais com tanta força como no ano passado. No setor de serviços, a maior parte do movimento de retomada após a pandemia já ocorreu”, cita a economista.
Mauro Rochlin, da FGV, vê que os impulsos fiscais são contrabalançados pela taxa básica de juros em 13,75% ao ano – que se alastra pela economia com efeitos restritivos e afeta fortemente setores como a indústria, que precisa de financiamento com crédito mais ‘barato’.
“Apesar do resultado do trimestre, o contexto de Selic em 13,75% não pode ser ignorado. A previsão daqui pra frente é de desaceleração”, diz.