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Ali Klemt Primeira-dama não cuida da casa

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Foto: Reprodução/Instagram

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Qual é o papel da primeira-dama da nação? Certamente, não é o de dona de casa, como expressamente esclareceu o presidente Lula ao rebater críticas sobre mais uma viagem internacional de Janja. Em uma fala calma, mas visivelmente irritada, ele afirmou:
“A minha mulher não é clandestina. A minha mulher não é apócrifa. Ela viaja porque foi convidada para viajar – e não foi pouca coisa. Ela foi convidada pelo companheiro Macron para discutir a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.”

Ele então se disse muito orgulhoso e finalizou:

“Ela vai continuar fazendo o que gosta, porque a mulher do presidente Lula não nasceu para ser dona de casa. Ela vai estar onde quiser, vai falar o que quiser e vai andar para onde quiser. É assim que eu acho que deve ser o papel da mulher.”

Beleza, Lula. Falou o certo – até porque o mínimo esperado é respeitar o espaço da esposa. Ou quase certo, não fosse por um detalhe. Calma, já chego lá. Antes, só preciso destacar que a questão com Janja não é se ela é respeitada por ele ou não – todos já sabemos que ela manda e desmanda. O problema são os milhões já gastos nessas viagens – mais exatamente R$ 63 milhões, segundo dados do “Janjômetro” – que entram na conta do Executivo, apesar de ela não ter cargo público.

Não se trata de ser machista ou feminista: se Lula fosse casado com um homem e esse homem fosse o primeiro-cavalheiro, os questionamentos seriam os mesmos. A única diferença no discurso presidencial seria a impossibilidade de enfatizar que “a mulher do presidente Lula não nasceu para ser dona de casa” – uma frase que, aí sim, carrega preconceito velado.

Lembrem-se: essa é a mesma pessoa que já disse ser “amante da democracia”, porque, afinal, as amantes são mais amadas. Mas veja, nem quero entrar nessas “sutilezas”, porque outra coisa que também sabemos é que, apesar de dizer ter orgulho da esposa, já ouvimos um monte de piadinhas sem graça sobre mulheres em geral. Assim, não funciona. Alguém avisa a assessoria?

Ok, ok. Impossível deixar essa frase passar batida. Quanto mais penso nela, mais me choca como a figura da dona de casa ainda é tratada como algo inferior. Já passou da hora de a sociedade entender que a mulher que fica em casa tem o trabalho mais difícil de todos: ela planeja, gerencia, executa. Trabalha em escala 24/7 sem remuneração e ainda é desvalorizada por isso, como se apenas o dinheiro fosse responsável pela manutenção de um lar. Sabemos que dinheiro é importante, mas o que sustenta uma família são valores, hábitos, rituais.

Se, por um lado, não é necessário ser “apenas” dona de casa para estruturar uma família (lembremos de todas nós, mulheres que trabalhamos fora e ainda acumulamos o terceiro e o quarto turnos com tarefas domésticas, supermercado, escola dos filhos, roupa para lavar, disciplina, afeto, a cama esquecida para arrumar), por outro, é preciso ser muito MULHER para abdicar de seus sonhos pessoais em prol da casa. Eu diria até que, hoje em dia, ser dona de casa é um dos maiores atos de coragem de uma mulher.

E atenção: não estou falando das que têm condições financeiras e contam com funcionárias diariamente, podendo gastar seu tempo no salão ou em lojas de grife. Falo das milhares de mulheres que optam por cuidar da casa porque o valor de um salário não compensa o custo de terceirizar os filhos. Ou das que escolhem estar mais presentes. Ou, pior, das que sequer têm essa opção, porque estão presas em relacionamentos tóxicos dos quais não conseguem sair. São essas as donas de casa que, segundo Lula, não podem ser “mulher do presidente”.

Mas voltemos à questão da primeira-dama. O título se refere à esposa do líder do Poder Executivo. Ela não ocupa cargo público, não recebe salário e seu trabalho é voluntário. Normalmente, dedica-se a causas assistenciais e projetos sociais. Mas o que realmente importa é o carisma – e é esse elemento crucial que faz algumas entrarem para a história.

Janja afirmou que queria fazer diferente – e, claramente, está fazendo. Sei lá, deve estar agradando alguém. Não a mim, vocês sabem. Mas quem sou eu para julgar? Nesse ponto, concordo com Lula: Janja deve fazer o que bem entender. Só tem um detalhe, presidente: que não o faça com o meu dinheiro.

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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