Segunda-feira, 06 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 25 de dezembro de 2023
Em menos de duas semanas de governo, o presidente da Argentina, Javier Milei, anunciou dois grandes pacotes econômicos que já provocam um turbilhão na economia do país. Do agronegócio, passando pela indústria e varejo, todos os setores se surpreenderam, por exemplo, com o tamanho da desvalorização da moeda. Mas também com o aumento de impostos, muito distante das propostas libertárias de Milei enquanto candidato.
Os setores ligados ao consumo foram os primeiros a sentir o impacto das medidas, e a tendência é de que os trabalhadores e indústrias sejam os maiores afetados. Do outro lado da balança está o agronegócio, que comemorou o fim de entraves de exportação e o maior ganho com um dólar mais caro.
Já nos dias seguintes ao anúncio do ministro da Economia, Luis Caputo, os preços reagiram à desvalorização de 54% da moeda, que tirou o dólar de seus mais de 400 para 800 pesos. Em questão de duas semanas, alguns produtos apresentaram aumento de quase 90%, segundo consultoras. A previsão é que dezembro termine com uma inflação entre 20% e 30%, levando a taxa de 2023 para 200%.
Com o aumento de preços, e sem previsão de aumento de salários, os argentinos devem consumir cada vez menos nos meses à frente. Isso deve desacelerar a economia e afetar diretamente o setor industrial, de atacado e varejo.
Segundo estimativas da consultoria argentina Equilibra, o salário real dos argentinos que pertencem ao setor formal poderia sofrer uma perda de 9% em dezembro, o que seria a maior queda desde 2002, período que seguiu a crise econômica de 2001.
Uma futura recessão também travará a oferta de empregos, colocando em xeque a já vulnerável produção argentina, criando uma espécie de bola de neve para o consumo.
“O salário real, a queda na demanda e a queda no consumo não só terão um efeito de renda menor para aqueles que mantiverem seus empregos, mas também terão um efeito de renda menor devido à perda de empregos, o que significa que as perspectivas não são boas para todas as empresas, serviços e indústrias que abastecem o mercado interno”, explica o professor de Economia da Universidade de Buenos Aires (UBA) Fabio Rodriguez.
Além disso, a redução dos subsídios para transporte, energia e gás a partir de 1º de janeiro promete pressionar ainda mais o custo de vida dos argentinos.
As empresas que dependem de importação também sentirão o impacto. Embora nas primeiras medidas anunciadas haja a previsão do fim do sistema de entraves, as importações ficaram menos interessantes com o dólar a 800 pesos. Quem dependia de insumos importados, como é o caso de grande parte dos setores automotivo, farmacêutico e médico, já sofria com a falta de produtos, mas a tendência é piorar.
Dada a agitação inicial da indústria após as primeiras medidas, Caputo se reuniu no dia 18 com altos funcionários da União Industrial Argentina (UIA), quando afirmou que “não só não há dinheiro, não há dólares”.
A falta de dólares é mais um fator dramático para a indústria, que além de não conseguir importar tudo o que necessita, acumula uma dívida crescente com seus fornecedores, que já notificam sobre a iminente interrupção dos embarques de insumos.
De acordo com estimativas, a dívida comercial de importações não pagas cresceu em quase US$ 15,6 bilhões (R$ 75,8 bilhões) neste ano, incluindo os US$ 3 bilhões (R$ 14,5 bilhões) estimados para outubro, um recorde para um único mês.
A construção civil também deve sofrer nos próximos meses, já que o próprio governo está congelando obras públicas e paralisando licitações. O setor é um grande empregador e contribuirá para a bola de neve da queda de consumo.
No dia 20, o governo anunciou um novo pacote, mais robusto, que desregulamentou novos setores, de moradia à saúde e empresas públicas, rapidamente respondido com protestos. As medidas, porém, ainda precisam de aval do Congresso, onde Milei deve encontrar obstáculos. Além da Justiça, que vai avaliar sua legalidade. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.