Sábado, 23 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 24 de janeiro de 2017
Em seus primeiros dias como presidente, Donald Trump conseguiu diluir boa parte das incertezas que marcaram o período pré e pós-eleitoral, consolidando em seu lugar uma sensação generalizada de medo. O discurso inaugural, em que criticou o establishment político de Washington, falando diretamente a seu eleitor, e as medidas iniciais adotadas indicam que os EUA querem mesmo se isolar no mundo.
O novo mandatário americano confirmou temores econômicos e geopolíticos, insinuados pela montagem do gabinete. Antes mesmo de completar uma semana de governo, há indícios de que sua gestão será tangida por conflitos de toda ordem, inclusive com a imprensa profissional; governos aliados; e boa parte da própria população americana, que se sente ultrajada pelas posições xenófobas, racistas e misóginas do novo ocupante da Casa Branca.
Além do desmonte do Obamacare, o programa de assistência médica criado pelo antecessor, Trump também deu passos firmes na contramão do livre mercado, retirando os EUA das negociações da Parceria Transpacífica, o acordo de livre comércio envolvendo 12 nações. A medida anula o principal tratado comercial negociado por Obama para conter a influência da China sobre os países da região. Mais do que tudo, a decisão inaugura uma fase de protecionismo da principal economia do mundo.
Não à toa, no primeiro dia de governo, Trump enfrentou uma onda mundial coordenada de protestos de mulheres e minorias, que temem a perda de direitos consagrados no governo de Obama. Mas o descontentamento vai além da militância de direitos civis. Wall Street, sede do mercado financeiro global, abriu a semana com o dólar em queda, diante dos prospectos de uma era de isolacionismo nacionalista, que deverá gerar reações em efeito cascata.
Com o enfraquecimento da globalização, de instituições multilaterais e salvaguardas que coíbem excessos, como pretende Trump, fortalecem-se líderes controversos, conservadores e autoritários, como o russo Vladimir Putin; o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan; o chinês Xi Jiping; o indiano Narendra Modi; e o israelense Benjamin Netanyahu; para citar alguns. Também ganham fôlego movimentos nacionalistas e contrários à integração da União Europeia, num ano de importantes eleições presidenciais e legislativas.
Ainda no campo geopolítico, chama a atenção as provocações de Trump à China, com a política de empoderamento de Taiwan e as ameaças de intervenção militar na região em disputa no Mar do Sul da China. As bravatas do novo presidente alimentam pressões que remontam à Guerra Fria. Também corre risco o acordo nuclear negociado com o governo iraniano, invertendo um processo de complexas negociações que atenuou as tensões entre a república islâmica e o Ocidente. Aumenta o medo. (AG)