Terça-feira, 01 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 30 de março de 2025
Os primeiros sinais da política monetária restritiva do Banco Central (BC) começam a se fazer sentir. A própria instituição reduziu de 2,1% para 1,9% sua projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Em março, a prévia da inflação ficou em 0,64%, dentro da expectativa do mercado mas abaixo do projetado por mais da metade das instituições financeiras. A inflação ainda preocupa.
Em 12 meses, está em 5,26%, muito acima do limite superior da meta (4,5%). Ainda há dúvida se o aperto monetário será suficiente para domar os preços. O presidente do BC, Gabriel Galípolo, reconheceu que o cenário é “incômodo”. O BC prevê que a inflação só atingirá a meta em 2027 — e o Poder Executivo pouco tem feito para ajudar a derrubá-la.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstra dificuldade de conviver com um BC independente. Dá a entender que considera a inflação problema secundário diante do desemprego e insinua que a autoridade monetária deveria ser subordinada a ele. Depois dos reiterados ataques de Lula à gestão Roberto Campos Neto, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem insistido que Galípolo é obrigado a subir o juro porque não pode dar “cavalo-de-pau”.
Não haveria “cavalo-de-pau” se o governo fizesse sua parte e equilibrasse as contas públicas. Em vez disso, tudo o que faz é estimular o consumo. No mês passado, Lula liberou por medida provisória R$ 12 bilhões do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para os 12,2 milhões de brasileiros que optaram pelo saque-aniversário.
Neste mês, Haddad encaminhou ao Congresso uma proposta de isenção e redução de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 7 mil, cujo efeito será, inevitavelmente, despejar mais R$ 28 bilhões no consumo. À medida que o ano eleitoral de 2026 se aproxima, deverão se multiplicar as “bondades” que custam caro.
Analistas avaliam que Lula precisa assimilar a ideia de que a pressão do consumo sobre a economia gera inflação e corrói salários. O Brasil já passou por estímulos inconsequentes no segundo governo de Lula (2007-2010) e na primeira gestão Dilma Rousseff (2011-2014). A economia perdeu sustentação, e o País pagou o preço na recessão de 2015-2016.
A expectativa do mercado para o PIB deste ano coincide com o crescimento de 1,9% projetado pelo Banco Central. O desaquecimento, entretanto, teve pouco efeito na estimativa para a inflação (5,65%). O humor do mercado é afetado pela percepção de que, no governo, apenas Haddad defende uma política de equilíbrio fiscal e, mesmo assim, com propostas frágeis para conter gastos. Cabe, portanto, apenas ao BC a missão de trazer a inflação à meta, como determina a lei que lhe concedeu autonomia.
Galípolo
Desde que ocupou a Diretoria de Política Monetária do BC, por indicação de Lula, felizmente Galípolo tem atendido às expectativas. Votou com Campos Neto nas altas que se seguiram ao atual surto inflacionário, inclusive no final do ano passado, quando o comunicado da instituição sinalizava mais aperto no início deste ano.
Sob Galípolo, a autoridade monetária já subiu os juros duas vezes. A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) informa que a distância da inflação do centro da meta “exige restrição monetária por mais tempo que outrora seria exigido”.
É esperada uma nova alta de 0,75 ponto na próxima reunião, e não estão descartados aumentos posteriores, conforme a pressão inflacionária. Em vez de esperar subordinação do BC ao Poder Executivo, o governo poderia contribuir para conter a inflação de modo mais eficaz. Com uma política fiscal responsável, por exemplo. (com informações de O Globo)