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Prisão de Marcelo Odebrecht é duro golpe para a maior multinacional brasileira

Fundada em 1944, construtora ocupa o 12° lugar no ranking mundial do setor. (Foto: Taba Benedicto/Folhapress)

Analistas da rede britânica de comunicação BBC no Brasil avaliam que a prisão de Marcelo Odebrecht, 47 anos, presidente da Odebrecht, junto com dois exexcutivos do grupo, representa um grave momento para a maior construtora brasileira, ícone da projeção do País no cenário internacional. Os mandados foram cumpridos na sexta-feira (19), em mais uma fase da Operação Lava-Jato, da PF (Polícia Federal), que apura denúncias de corrupção contra políticos, empresários e diretores da Petrobras.

A companhia foi fundada em 1944 por Norberto Odebrecht (1920-2014), descendente de alemães e avô de Marcelo. Na época, a empresa tinha sede em Salvador (BA) e atuava apenas como construtora. Hoje, é considerado o maior grupo industrial do Brasil, com negócios em segmentos como petroquímica, biocombustíveis, energia, seguros e defesa, ocupando o décimo-segundo lugar no ranking mundial de empreiteiras, conforme a revista Engineering-News Record. Atuante em mais de 20 países, também figura como a mais globalizada multinacional brasileira e uma grande doadora de recursos para campanhas eleitorais.

Revés

Para o jornalista e escritor uruguaio Raúl Zibechi, autor de um livro sobre a ascensão de multinacionais brasileiras, as prisões são um “duro golpe” para o grupo que revolucionou o setor de construção no País, por meio de um método operacional agressivo e eficiente, gestado por Norberto e transmitido por seu filho Emílio ao atual presidente. Essa filosofia, batizada de TEO (Tecnologia Empresarial Odebrecht), é definida como “um conjunto de princípios, conceitos e critérios que valoriza potencialidades humanas, como a disposição para servir, a capacidade e o desejo de evoluir e a vontade de superar resultados”.

Segundo Zibechi, Marcelo integra um grupo de executivos nascidos em empresas familiares bastante influenciadas pela ESG (Escola Superior de Guerra), um centro de estudos criado em 1949 e ligado ao Ministério da Defesa. “Eles têm uma visão nacionalista, segundo a qual o desenvolvimento econômico proporciona independência e soberania a um país”.

Apesar desse perfil familiar, ex-funcionários consideram que a Odebrecht é menos centralizada que outras grandes construtoras. A autonomia operacional de seus escritórios no exterior também teria contribuído para a sua expansão. “Mesmo que Marcelo tenha mantido o modelo de gestão do pai e do avô, há importantes diferenças de personalidade entre os três”, opina um ex-empregado que prefere se manter no anonimato.

“Noberto era um homem muito querido por todos. Seu sucessor, Emílio [presidente do grupo entre 1991 e 2004] não tinha o mesmo carisma do pai, embora fosse um homem de negócios bastante acessível”. Já Marcelo é descrito como “ansioso” e “arrogante”. Durante recente seminário em São Paulo, ele não escondeu sua irritação. “Logo nós, que geramos tantos empregos, estamos na linha de fogo do embate político”, reclamou.

Problemas

Paralelamente à Lava-Jato, a Odebrecht também tem enfrentado crescentes questionamentos sobre as suas relações com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sob intensa pressão para se tornar mais transparente, no início de junho a instituição derrubou o sigilo sobre os seus financiamentos para empresas brasileiras em Cuba e Angola, e que tiveram a Odebrecht como principal receptora.

Algumas semanas antes, o MPF (Ministério Público Federal) solicitou informações à Odebrecht, ao Instituto Lula e ao BNDES sobre financiamentos a obras da empresa em países da África e América Latina. A análise dos dados servirá para decidir se há base para abertura de inquérito, primeiro passo para uma eventual denúncia à Justiça. De acordo com reportagem da revista Época, o MPF apura se o ex-presidente recorreu à sua influência para facilitar negócios da empreiteira com governos estrangeiros. Tanto Lula quanto a Odebrecht e o BNDES negam qualquer infração.

Para o professor Sergio Lazzarini, do Insper (Instituto de Pesquisa e Estratégia), a Lava-Jato tem colocado em xeque o sistema que permitiu a ascensão da construtora e de outros grupos empresariais no Brasil. “Esse modelo, que sempre vigorou no País”, prega que o Estado deve ser o grande indutor do desenvolvimento”, explica o especialista. “Criou-se um cenário onde os empresários procuram se conectar com o Estado, em busca de oportunidades, o que favorece procedimentos ilícitos”. (Folhapress)

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