Por Redação O Sul | 13 de outubro de 2023
Fora da rotina, uma a cada três pessoas tem dificuldade para evacuar. Recomendação é se preparar antes, com muito líquido, dieta leve e sono.
Os cientistas não sabem exatamente quantas pessoas têm dificuldades para evacuar durante as férias, um fenômeno chamado de “constipação do viajante”. Mas Satish Rao, professor de medicina da Universidade Augusta, no estado americano da Geórgia, que estuda constipação, afirma que, em sua experiência, é bastante comum o intestino ficar preso durante viagens, afetando o que ele calcula ser uma em cada três pessoas.
Evacuar entre duas ou três vezes por semana ou três vezes por dia é considerado normal, de acordo com Rao. Mas se você vai com muito menos frequência do que isso, ou se suas fezes estão irregulares e você sente dor quando vai ao banheiro, provavelmente está com prisão de ventre.
A médica Madhulika Varma, chefe de cirurgia colorretal do UCSF Medical Center, explica que “se a sua viagem envolve um voo longo, é provável que você possa culpar a desidratação e a imobilidade” por essa prisão de ventre temporária.
“O ar seco do avião pode desidratar e alguns viajantes acabam consumindo menos bebida nos voos para evitar se levantar com frequência. Se você ficar desidratado, seu corpo poderá extrair mais líquido do cólon, deixando para trás fezes duras e protuberantes que podem ser difíceis e dolorosas de evacuar”, diz a médica, explicando também que, além disso, “ficar sentado por muito tempo também pode desacelerar as contrações musculares que movem os alimentos através do sistema digestivo”.
O afastamento da sua rotina típica de sono pode ser outro culpado. A mudança de fuso horário pode atrapalhar o relógio interno que regula o sono e a digestão. Madhulika especifica que “quando dormimos, o cólon dorme, e quando acordamos, o cólon acorda”. Isso significa que se você não acorda no horário habitual, seu intestino acaba ficando confuso.
Isso pode acontecer mesmo se você não cruzar os fusos horários, alerta a médica Erin Toto, gastroenterologista da Penn Medicine, nos EUA. Isso porque, às vezes, “pequenas mudanças em sua rotina típica de alimentação e sono podem desequilibrar o organismo”.
Mantendo regularidade
A melhor maneira de prevenir o intestino preso é manter uma boa dieta, respeitar as horas de sono e investir na hidratação. De preferência, começando essa rotina alguns dias antes da viagem. Aposte na ingestão de líquidos, para que sejam suficientes de acordo com o seu peso, “especialmente se estiver viajando para grandes altitudes ou climas quentes”, afirma Samita Garg, gastroenterologista da Cleveland Clinic, nos EUA.
Há muitos alimentos e bebidas hidratantes para escolher, embora o professor de medicina Rao alerte contra o consumo de “bebidas gaseificadas”, como refrigerantes. Elas podem ajudar na hidratação, mas é preciso cuidado porque também podem causar gases e inchaço, deixando o intestino ainda mais lento.
Outra dica dos especialistas é tentar limitar a quantidade de álcool ingerida. “As pessoas costumam beber mais bebidas alcoólicas nas férias, mas isso pode causar ou piorar a desidratação”, alerta Madhulika.
Outra boa forma de se preparar é investir no sono. “Se a programação permitir, você também pode tentar mudar seu horário de dormir de acordo com o fuso horário que está visitando. E tentar fazer exercícios, mesmo que sejam apenas 15 minutos de caminhada. Isso já pode facilitar a evacuação, estimulando o cólon”, orienta Samita Garg.
Quando se trata da hora das refeições, o conselho dos especialistas é evitar exagerar no consumo de carnes gordurosas, frituras ou alimentos ricos em laticínios, porque demoram mais para se decompor no intestino e podem contribuir para a constipação. A recomendação é optar, sempre que possível, por líquidos, fibras, frutas e vegetais.
“Priorizar a fibra é especialmente importante. As recomendações variam de pessoa para pessoa, mas a maioria das pessoas deve consumir pelo menos 25 gramas de fibra por dia. Isso é o bastante. Se você não consegue isso apenas com a sua dieta, os suplementos podem ajudar”, enfatiza a gastroenterologista Erin. “Suplementos de fibras solúveis, como o psyllium, tendem a funcionar bem para a constipação.”
Mas o mais importante, de acordo com a médica, é não se esquecer de bebê-los com água, o que torna as fezes mais macias e fáceis de evacuar. E que “é sempre uma boa ideia consultar o seu médico antes de tomar qualquer suplemento”.
Além disso, alimentos fermentados como o iogurte ou qualquer coisa em conserva também podem ajudar a manter o microbioma intestinal saudável, o que é bom para a digestão. E tomar café também pode estimular a vontade de ir ao banheiro, de acordo com os médicos entrevistados.
Laxantes vendidos sem receita também podem ajudar, mas é preciso cuidado porque nem todos são bons para viagens. Erin recomendou polietilenoglicol (Miralax), que tende a causar menos cólicas e diarreia do que laxantes estimulantes como o bisacodil (Dulcolax).
Quando se preocupar
Se já tiverem passado alguns dias e você ainda não tiver evacuado, não é motivo para entrar em pânico, segundo Erin Toto. “É definitivamente um mito que você precisa fazer cocô todos os dias”, afirma a gastroenterologista.
Já Rao, professor de medicina, recomendou procurar um médico “se já passou de três vezes mais do tempo que é o normal para você”. Por exemplo, se você costuma ir em dias alternados, provavelmente poderá passar cerca de uma semana sem evacuar. Mais do que isso é preocupante.
Para os especialistas, não importa o que aconteça, vá ao médico imediatamente se houver sangue nas fezes ou se você sentir dores extremas ao evacuar.
E se você não estiver com vontade de ir, a médica Madhulika indica que é melhor evitar empurrar ou forçar muito. Já que “isso pode causar uma série de outros problemas, incluindo hemorroidas”.
