Pouco depois de se aposentar da Marinha, em 1994, o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva foi surpreendido por uma pergunta ao concluir uma exposição sobre o programa nuclear brasileiro, em Viena, na Áustria. Um norte-americano disse que considerava duvidosas as informações sobre os custos do programa e provocou: “Acho que o senhor está escondendo o que gastaram”. Othon desconversou.
Na semana passada, Othon foi acusado de corrupção na Operação Lava-Jato e levado preso para um quartel militar em Curitiba (PR). Os procuradores querem saber por que a consultoria que e o almirante criou ao passar para a reserva ganhou 4,8 milhões de reais de empreiteiras que trabalham para a Eletronuclear, a estatal que ele presidiu nos últimos dez anos. Othon disse à PF (Polícia Federal) que se desligou da consultoria ao assumir a Eletronuclear, e que o dinheiro pago pelas empreiteiras remunerou serviços prestados pela filha tradutora e pelo genro engenheiro.
Programa secreto
Nas décadas de 1970 e 1980, Othon chefiou um programa secreto da Marinha que deu ao Brasil o domínio de uma cobiçada tecnologia, o processo que transforma o minério de urânio no combustível necessário para que uma usina nuclear produza eletricidade. A parte mais sensível do projeto, o desenvolvimento das centrífugas de enriquecimento de urânio que aumentam a concentração do material radioativo encontrado no minério, é tratada como segredo de Estado desde a ditadura militar (1964-1985), e poucos detalhes sobre ela vieram a público até hoje.
Engenheiro com especialização no MIT (Massachusetts Institute of Technology), nos EUA, Othon dirigiu o programa da Marinha do Brasil de 1979 até a aposentadoria em 1994, quando abriu a consultoria Aratec. Ele conhece todos os seus segredos, e guarda vários deles com zelo. (Folhapress)