A Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifestou contrariamente à soltura do general Walter Braga Netto para o Supremo Tribunal Federal (STF), na última sexta-feira (20). Em parecer enviado à Corte, a manifestação ocorre após o pedido da defesa para revogar a prisão.
O general atuou para descobrir informações da delação premiada do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid. A prisão foi determinada pelo ministro do STF, Alexandre de Moraes, relator do inquérito sobre o planejamento de golpe de Estado, no último dia 14.
De acordo com o procurador-geral, Paulo Gonet, as razões que fundamentaram a prisão continuam válidas, pois as medidas cautelares não foram suficientes para a garantia da ordem pública. Isto porque Braga Netto tentou interceptar as informações da Polícia Federal no curso das investigações.
“As tentativas do investigado de embaraçar a investigação em curso denotam a imprescindibilidade da medida extrema, dado que somente a segregação do agravante poderá garantir a cessação da prática de obstrução. O quadro fático denota, assim, risco de continuidade delitiva por parte do investigado, o que traz à espécie o elemento de contemporaneidade”, afirmou o procurador no parecer.
Preso preventivamente por obstrução da justiça e um dos principais suspeitos de envolvimento direto na organização dos atos golpistas de 8 de janeiro, Braga Netto foi apontado em delação premiada de Mauro Cid como peça-chave no planejamento das invasões que destituiriam os Três Poderes da República.
Prisão inédita
Braga Netto é o primeiro general quatro estrelas preso na história do País. Além da prisão, a PF cumpriu mandados de buscas e apreensões em endereços ligados ao militar por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O general foi preso em casa, no Rio de Janeiro, e será mantido sob custódia no quartel da 1ª Divisão de Exército, organização militar que ele mesmo chefiou entre 2016 e 2019.
A detenção do vice na chapa derrotada de Bolsonaro em 2022 aumenta significativamente o risco de prisão do próprio ex-presidente, já que a investigação agora atinge o membro mais próximo de sua articulação política e militar.
Entre os envolvido há o receio de que personagens centrais da trama sigam o mesmo caminho de Mauro Cid e contem o que sabem aos investigadores.
A relação direta do general com Bolsonaro coloca o ex-presidente sob risco crescente, uma vez que reforça a tese de que os atos de 8 de janeiro foram premeditados e contaram com apoio político e logístico de seu núcleo mais próximo. Se confirmadas as suspeitas de que Braga Netto era um dos operadores do plano, Bolsonaro poderá ser responsabilizado como mentor.