Retorno ao prazo indeterminado
Ao derredor, os que estavam não estão. A porta permanece aberta e parece que os de antes, já tão poucos, aprontam-se para sair. Não sabem o que encontrarão; talvez o silêncio, o mistério, as sombras, o vazio total. Quem sabe a resposta da equação com tantas incógnitas propostas pela fé?
Continuo, quase solitário. Busco uns e outros. Confesso que busco a minha resposta. Busco a mim mesmo. Não afirmei, não contestei, em voz para se ouvir!
Recorde-se que dogmas, por si só, são radicais; porque, no pensamento individual, sozinho, melhor diria, recolhido ao mais inquietante desafio e, num passo a mais, decidir que éramos naturalmente perpétuos. Havia uma certeza, paradoxalmente não confiável, mas em constante manejo, tanto pelos crédulos, como pelos menos confiáveis, que alegavam ser incólumes ante o tempo.
Diante da incerteza, todos perguntavam o que aconteceria. Vozes múltiplas asseguravam, no coro harmônico: estavam sempre aqui. Eram mães que amamentavam; eram pais padrinhos; irmandade dos que, aflitos, descrentes de laços firmes de especial solidariedade, circunstancialmente, faziam um papel não confiável de reais competidores. Ao mesmo tempo, no formal, eram irmãos e hostis, iguais e diferentes, de nós e deles próprios.
Ególatras, ante o espelho de Narciso, fazíamos um desenho da vida em que tudo e todos, diante da História, se atribuíram foco central da tela viva. Éramos arrojadas, até nos alimentávamos de uma fatia desproporcional de ousadia, quase insanos, e nos atribuía parceria com da Vinci, ao copiá-lo:
“Um pintor deve começar cada tema com uma lavagem em negro, porque todas as coisas na natureza são negras, exceto quando expostas pela luz”.
E nós éramos, ou melhor, pretensiosamente, sempre acreditamos no cultivo de si próprio. Éramos a luz.
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