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Produto Interno Bruto brasileiro já cresce acima da sua capacidade há sete trimestres consecutivos

No 3 º trimestre de 2024, diferença foi de 4%, a mais alta desde o 1º trimestre de 1995. (Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil)

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro já cresce acima da sua capacidade há sete trimestres consecutivos. Esse descompasso é chamado por economistas de hiato do produto, uma diferença entre o crescimento registrado (PIB corrente) e quanto é o seu potencial, considerando a infraestrutura instalada (PIB potencial).

No terceiro trimestre de 2024, esse hiato do produto ficou positivo em 4%, resultado mais elevado em quase três décadas, segundo cálculos do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), obtidos com exclusividade pelo Estadão/Broadcast.

“Esse é o maior hiato positivo dos últimos 30 anos”, ressaltou Claudio Considera, coordenador do Núcleo de Contas Nacionais do Ibre/FGV.

A última vez que essa diferença esteve mais positiva foi no primeiro trimestre de 1995, em 5,5%, diz o estudo do Ibre/FGV, conduzido por Considera e pela pesquisadora Elisa Andrade.

Quanto mais positivo o hiato, maior a pressão sobre os preços, em razão da demanda estar acima da oferta. Essa situação foi apontada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central como um dos motivos para o aumento maior da taxa básica de juro, a Selic, como forma de tentar retomar o controle sobre a inflação.

“Você tem um excesso de demanda, realmente. O Banco Central não está errado na interpretação dele de que há um excesso de demanda”, afirmou Considera.

Ajuste fiscal

Depois de passar mais de oito anos operando com ociosidade, a atividade econômica tem estado acima da sua capacidade máxima desde o primeiro trimestre de 2023 e, a cada trimestre, o PIB brasileiro tem renovado patamares recordes, sustentado por um patamar de consumo também em níveis históricos.

“Isso mostra uma economia muito aquecida. Isso é bom? É bom, porque tem mais emprego, mas tem mais inflação. Então, se o governo não segura o gasto dele a inflação vai acontecer mesmo. A única solução que a gente tem para não ficar enfrentando esse dilema é fazer um ajuste fiscal crível, que o mercado acredite que vai dar certo”, disse o coordenador do Ibre/FGV.

Na ata do Copom publicada pelo BC no mês passado — após ter elevado a Selic em 1,0 ponto porcentual, para 12,25% ao ano —, os integrantes mencionaram que o desempenho do PIB do terceiro trimestre mostrou um hiato do produto mais positivo do que o estimado.

“Analisando o período corrente de atividade econômica, persiste um cenário de atividade resiliente com dinamismo maior do que esperado, como evidenciado na divulgação do PIB do terceiro trimestre, levando a nova reavaliação de um hiato mais positivo”, diz a ata do Copom.

Solução

A solução para um crescimento econômico sem uma abertura maior do hiato, disse o pesquisador do Ibre/FGV, passaria por mais investimentos em bens de capital, que elevassem a capacidade produtiva, e em ferramentas que permitissem um aumento da produtividade da mão de obra já sobre utilizada. Como o atual ciclo de elevação de juros inibe essas duas possibilidades, o ajuste fiscal seria imperativo, afirmou.

“Uma coisa boa é que aumentou o investimento. E o consumo não é ruim, mas você tem que garantir que o ajuste fiscal vai existir. Você tem que tirar o governo da demanda, e deixar o privado ocupar”, explicou Considera.

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