Um levantamento realizado pela plataforma Catho sobre os profissionais de ensino, e divulgado ontem, no Dia do Professor, mostra a dura realidade da vida daquele profissional que é responsável pela formação e pelo futuro de gerações de cidadãos. Isso porque as médias salariais daqueles que atuam na rede de ensino privado variam de modestos R$ 1,7 mil a até R$ 5 mil. Um deputado federal, por exemplo, recebe, mensalmente, R$ 33.763 pelo exercício do mandato, sem incluir cotas como a de exercício para atividade parlamentar ou de contratação de pessoal — que podem levar os vencimentos para mais de R$ 100 mil.
Segundo o estudo, as unidades da Federação que oferecem a maior média de remuneração, atualmente, são Distrito Federal (R$ 5.167,64), Pará (R$ 4.341,34) e Maranhão (R$ 4.223,44). O Rio Grande do Norte é o estado que oferece a menor média de remuneração (R$ 1.798,51) aos educadores.
Quando a pesquisa divide por grau de ensino, os professores universitários são os que têm o salário mais elevado: de R$ 8.761,33. Os profissionais do ensino médio vêm bem abaixo, com remunerações de R$ 3.861,64 — para práticas pedagógicas — e de R$ 3.749,40 — para o ensino de línguas estrangeiras. Os que atuam no ensino fundamental recebem entre R$ 2.941,30 e R$ 3.035,21 para lecionar, respectivamente, educação física e matérias regulares.
A discrepância se acentua quando se coloca, lado a lado, a média remuneratória do professor brasileiro e a da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Nos anos finais do ensino fundamental, apresentam os piores salários entre 40 países avaliados em um estudo divulgado em setembro.
Um brasileiro recebe R$ 131.407 (US$ 25.030) por ano no nível pré-primário; R$ 133.171 (US$ 25.366), no primário; R$ 135.135 (US$ 25.740), no secundário inferior geral; e R$ 140.301 (US$ 26.724), no secundário superior geral. As mesmas faixas nas nações da OCDE são R$ 213.711 (US$ 40.707), R$ 239.856 (US$ 45.687), R$ 251.937 (US$ 47.988) e R$ 271.682 (US$ 51.749) — respectivamente, no pré-primário, no primário, nos secundários inferior e superior. Mesmo os professores universitários, que no Brasil recebem salários maiores, têm vencimentos 48,4% inferiores em relação à média da organização econômica.
Segundo o professor Thiago Aquino, autor de livros sobre Educação, Educação Física e Gestão, os fatores políticos e sociais de cada estado interferem na média salarial da profissão. “É um processo histórico, mas que os governos precisam olhar com um pouco mais de intensidade, frente às condições de valorização deste profissional extremamente importante. As condições de salário estão também intimamente ligadas com o PIB e per capta e o desenvolvimento humano do estado. Cada vez mais devemos olhar para as condições de trabalho, a remuneração salarial e a formação continuada”, explicou.
Para o deputado federal Professor Israel Batista (PV-DF), um dos membros da Frente Parlamentar de Educação, mesmo nos estados onde os salários dos profissionais são considerados mais altos, o valor ainda assim não é suficiente. “O Distrito Federal tem um custo de vida muito alto e tem uma renda per capita muito maior do que São Paulo, que está em segundo lugar. Por isso, o salário dos professores do DF tem a aparência de ser muito mais alto do que a média nacional. Mas, em poder de compra, isso não é verdade”, alerta.
Além da desvalorização detectada pela pesquisa, o pedagogo e psicanalista pela Sociedade Internacional de Psicanálise de São Paulo, Geraldo Peçanha de Almeida, avalia que os desafios da profissão impactam a saúde mental dos professores. “Há, sim, uma desvalorização social, política, laboral, profissional e salarial em relação ao professor. Na Universidade Brasília, o professor Vanderlei Kodo, que é um dos maiores pesquisadores da saúde mental da profissão no Brasil, colheu números assustadores: dos dois milhões e meio de professores, metade, pelo menos, tem Síndrome de Burnout ou Síndrome de Desistência da Profissão”, explicou.
Segundo Peçanha, grande parte dos profissionais da área acaba desistindo da função quando se depara com a realidade do ofício. “Nessa hora é que a gente vê um número tão grande, ou seja, 50%, pelo menos, dos professores, estão desistindo da profissão. Isso não é só porque o ambiente é desgastante. A gente se pergunta: por que o professor está tão cansado, estressado, desistindo da profissão e adoecendo? A maioria dos professores entra na profissão iludida”, explica.