Sexta-feira, 18 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 9 de abril de 2025
Em um discurso inflamado na tribuna nas últimas semanas, o deputado federal Marcos Pollon (PL-MS), de 44 anos, invocou uma máxima do líder histórico do PDT Leonel Brizola para vociferar contra ex-aliados. “A política ama a traição, mas abomina o traidor. O que isso quer dizer? Que toda a perfídia, a balbúrdia, o burburinho de um movimento de traição é muito agradável aos espectadores, mas o traidor paga um preço muito alto”.
O advogado sul-mato-grossense, eleito com a promessa de turbinar a pauta armamentista no Congresso, referia-se a parlamentares de direita apoiados por ele e que hoje discordam de suas posições, consideradas radicais. A disputa atual, mais especificamente, se dá em torno de um projeto que endurece o Estatuto do Desarmamento ao propor um aumento da pena para quem dispara uma arma de fogo de uso restrito ou proibido, o PL 4149. A avaliação dos divergentes é de que Pollon não abre espaço para o diálogo e prejudica a pauta armamentista.
Deputado federal eleito com a “benção” do então presidente Jair Bolsonaro, Pollon começou seu mandato com protagonismo no Congresso. Agora, tem sofrido reveses que o deixaram enfraquecido tanto no Parlamento quanto no universo do tiro, segundo deputados, correligionários e atiradores.
A postura beligerante na tribuna é só o sintoma de um entrevero maior entre armamentistas. Uma denúncia anônima recente, amplamente explorada por antigos apoiadores em suas redes sociais, acusa Pollon de ter usado em benefício próprio seu movimento de promoção da política armamentista: a Associação Nacional Movimento Proarmas (Ampa), conhecida como Proarmas, criada em 2021 com a pretensão de se tornar a versão brasileira da Associação Nacional do Rifle (NRA), a entidade de lobby armamentista mais poderosa dos Estados Unidos.
A denúncia começou com uma postagem feita no X, sob o pseudônimo Emily Thorne, protagonista da série Revenge (Vingança, em inglês). Segundo a personagem delatora, ao se filiar ao movimento Proarmas, uma associação sem fins lucrativos, o apoiador estava, na verdade, comprando cursos online e assessoria de outro CNPJ, uma empresa privada de Pollon. Com o suposto golpe, Pollon teria enriquecido às custas da causa armamentista. Um dossiê assinado pelo mesmo pseudônimo e com denúncias semelhantes também circula pelo WhatsApp de políticos de Brasília.
Pollon afirma não ter enganado os membros do Proarmas. Ao jornal O Globo, diz que anunciou “publicamente” a plataforma de cursos, e que o Proarmas sempre foi mantido com os recursos dessa empresa. Questionado sobre o percentual do faturamento repassado à associação sem fins lucrativos, afirma que nunca fez as contas.
“Mesmo porque o valor investido era muito maior. Não tem como fazer a dosimetria disso aí, não é esse o objetivo. E, como é de livre adesão, ajuda quem quer”. No passado, em uma live em que se recusava a prestar contas, foi menos comedido. Disse que, se quisesse, poderia gastar esse dinheiro com “cachaça e puta.”
Em suas redes sociais, um dos ex-aliados de Pollon fez uma transmissão ao vivo para checar as denúncias e foi além. O advogado César Mello afirma que Pollon transformou o Proarmas em uma holding familiar, com capital social de R$ 1,3 milhão. Mello, que era um dos apoiadores mais próximos do criador do Proarmas até o último pleito presidencial, foi eleito primeiro suplente de deputado estadual (PP) pelo Paraná.
Está agora, ele próprio, sendo investigado pelo Ministério Público Eleitoral por abuso de poder político. Pollon nega que o Proarmas tenha se transformado em uma holding. Segundo ele, a holding em questão tem 100% do capital oriundo de dois terrenos do pai.
“Eram de propriedade dele há mais de 10 anos. Foram integralizados no capital. Quem fez essa narrativa sabe que é mentira, e construiu justamente porque as pessoas não entendem a complexidade disso. Tenho algumas empresas com o nome Proarmas. A única relação que essa empresa [holding] tinha com a associação era o registro do site. Como é uma empresa que nunca teve movimentação, converti numa holding”, explica Pollon.
Caçadores, atiradores e colecionadores (CACs) satisfeitos com a explicação de Pollon foram às redes sociais, suas frentes de batalha, defender o parlamentar. Um deles chamou quem desconfia do líder do Proarmas de “comunistas do tiro”. “Quem luta para desagregar faz o trabalho da esquerda”, escreveu.
A outros, entretanto, a satisfação não foi suficiente. A querela repercutiu também no Congresso, segundo um correligionário da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, popularmente chamada de Bancada da Bala.
“O Pollon instrumentalizou o apoio político do Proarmas. Os deputados que contaram com apoio do Proarmas em 2022 e continuaram apoiando o Pollon receberam esse impacto. Eles achavam que iria se repetir em 2026, mas não vai acontecer. O Pollon acabou perdendo suporte, ficou desacreditado. Ele está isolado”, diz o parlamentar. (Com informações do jornal O Globo)