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Promessa de Lula na campanha eleitoral de “cervejinha e picanha” mais baratas vira arma na reforma tributária

Corte de carne tem inflação de 8,74% em 2024; bebida aumentou 4,5%, diz IBGE. (Foto: Freepik)

Uma promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva se transformou em arma na batalha da reforma tributária. Para tentar uma blindagem contra o aumento de impostos, as cervejarias resgataram o aceno feito pelo petista de que as pessoas voltariam a comer “cervejinha e picanha” caso ele vencesse as eleições.

Nessa nova ofensiva, as fabricantes estão munidas de dados. O Instituto Locomotiva descobriu que boa parte da população vê o presidente em dívida quando o assunto é o “churrasquinho” prometido. Segundo uma pesquisa nacional conduzida pelo instituto, 72% acreditam que o governo não está cumprindo o compromisso de tornar esses produtos mais acessíveis aos brasileiros.

O relatório do grupo de trabalho da Câmara dos Deputados deve ser entregue nesta quarta-feira (3) e está em fase final de discussões com técnicos do governo. A expectativa é que o texto possa ser votado no plenário antes do recesso parlamentar.

Para as cervejarias, a pesquisa do Locomotiva indica um possível efeito colateral da reforma para o Palácio do Planalto caso as negociações não sejam feitas de forma a preservar a atual carga tributária das empresas.

A decepção das pessoas com a promessa não cumprida de Lula é percebida em todos os estratos sociais de forma bem semelhante. Segundo o levantamento, que foi feito no início de junho e contou com 2.050 entrevistados, a menor taxa de descontentes está nas classes D e E, mas o percentual também é elevado: 67% dizem que Lula não entregou o prometido.

O recorte por religião indica que, entre os evangélicos, a insatisfação é grande. O percentual dos que veem Lula descumprindo a promessa de campanha sobe para 79% no segmento. O petista tem tido dificuldade de se conectar com esse público.

Para Renato Meirelles, presidente do Locomotiva, a promessa feita por Lula na campanha foi “transversal” e não para um público específico, o que explica a avaliação negativa disseminada nas faixas salariais.

No caso da cerveja, como se trata de uma bebida extremamente popular, a população tende a saber o valor e a variação “na casa dos centavos”. Se o preço não cede, isso é facilmente incorporado à percepção negativa, diz ele. Nos últimos meses terminados em junho, a inflação da cerveja subiu mais do que a inflação oficial, segundo o IBGE.

O Locomotiva mostrou ainda que 74% dos entrevistados consideram “injusto” Lula prometer a volta do churrasco com cerveja e acabar aumentando impostos sobre os produtos. Para os entrevistados, a medida prejudicaria os momentos de lazer.

Esse aspecto deve ser bastante trabalhado pelas fabricantes de cerveja. Quando a proposta do chamado “Imposto Seletivo” ainda era analisada pelo Ministério da Fazenda, o Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv), que representa as principais fabricantes de cerveja do país, se mobilizou intensamente para garantir uma tributação mais branda para a bebida em relação aos destilados.

A movimentação deu certo e o governo propôs um modelo cuja alíquota cresce conforme o teor alcoólico das bebidas – o mesmo defendido internacionalmente pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A vantagem sobre as concorrentes destiladas, no entanto, não é vista como garantida. As fabricantes de cerveja entendem que é preciso deixar mais claro no texto como se dará a tributação de forma a se certificarem de que não serão prejudicadas.

Em abril deste ano, Lula chegou a dizer que não havia esquecido da promessa da cervejinha e da picanha. Nessa terça (2), ele defendeu que somente alguns cortes de carne tenham isenção tributária na reforma. Na visão do presidente, as carnes mais nobres deveriam ficar de fora.

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