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Brasil Propaganda irregular e mais votos do que médicos: entenda polêmicas da eleição para o Conselho Federal de Medicina

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Os cargos para o CFM serão para o período de 2024 a 2029. (Foto: CFM/Divulgação)

A eleição dos 54 titulares e suplentes do Conselho Federal de Medicina (CFM) foi concluída na quarta-feira com um resultado que consolida a entrada da polarização política em uma autarquia que regula uma atividade profissional. Depois de uma campanha em que parlamentares bolsonaristas se empenharam para emplacar candidatos no conselho, entre os escolhidos, estão nomes como Raphael Câmara, reeleito conselheiro no Rio de Janeiro com o mote de “não deixar a esquerda tomar o CFM”, e Rosylane Rocha, reeleita pelo Distrito Federal, que chegou a comemorar nas redes os atos golpistas no 8 de janeiro. A disputa teve acusações de fake news e de disparos de mensagens fora do prazo legal.

A mobilização conservadora gerou uma contrapartida que não alcançou os mesmos resultados. De um grupo de oito candidatos que se apresentaram como progressistas, apenas um foi eleito: Eduardo Jorge, de Pernambuco.

Antes da divulgação do resultado da disputa, na noite de quarta-feira (7), o presidente do CFM, José Hiran da Silva Gallo, fez um pronunciamento defendendo a união dos médicos “sem alinhamento de qualquer natureza ideológica”. O discurso foi transmitido ao vivo pelo site da entidade.

“Os médicos encontrarão no CFM uma autarquia pronta atuar em prol dos interesses da coletividade de forma isenta e sem alinhamento de qualquer natureza ideológica. Afinal, esta é a casa do médico brasileiro”, reforçou Gallo.

Segunda vice-presidente da autarquia, Rosylane Rocha foi eleita com 50,4% dos votos válidos no Distrito Federal, pela chapa Reunir e Trabalhar. No ano passado, a médica comemorou nas redes sociais a invasão das sedes dos Três Poderes e os atos antidemocráticos de 8 de janeiro em Brasília. O próprio CFM abriu um procedimento para apurar a conduta de Rosylane por causa disso. A médica também apareceu na campanha de outro candidato eleito, Jeancarlo Cavalcante, do Rio Grande do Norte, em uma corrente em que bolsonaristas pediam votos em candidatos de direita.

Pesquisa questionada

A campanha da vice-presidente foi acusações de disseminar fake news. No sábado, a comissão eleitoral do Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal cassou a chapa de Rosylane por “divulgação de informações falsas que comprometem a lisura do processo eleitoral”, ao difundir uma pesquisa de intenção de voto que “não consegue provar que é verdadeira ou atendeu à legislação eleitoral”. Mas no domingo, o presidente da Comissão Nacional Eleitoral, Aldemir Humberto Soares, reverteu a cassação, alegando que não ficou demonstrada a falsidade das informações e que a pesquisa havia sido divulgada primeiro por outra chapa.

No Rio de Janeiro, foi reeleito Raphael Câmara, o nome por trás da resolução do CFM que proibiu a assistolia fetal a partir da 22ª semana de gravidez para o aborto legal em caso de mulheres vítimas de estupro. Em maio, o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes suspendeu a resolução com o argumento de que ela foi além das competências da autarquia.

O candidato vitorioso em São Paulo foi Francisco Cardoso Alves, da chapa Força Médica, com 37,98% dos votos válidos. Apoiado por Nikolas Ferreira (PL-MG), Cardoso já apareceu em lives bolsonaristas por defender tratamentos sem comprovação científica durante a pandemia.

Outros parlamentares bolsonaristas no Estado, como a deputada federal Carla Zambelli e a deputada Fabiana Barroso, ambas do PL, preferiram apoiar o médico Armando Lobato. Assim como a candidata Melissa Palmieri, apoiada pela infectologista Luana Araújo, crítica da conduta do governo Bolsonaro na pandemia, Lobato foi derrotado. Palmieri foi a segunda colocada, com 34% dos votos válidos.

Médicos paulistas que apoiavam as chapas derrotadas denunciaram o envio de mensagens de celular com pedidos de votos para Cardoso, descrito como “único candidato anti-Lula”, nas 24 horas que antecederam as eleições, o que é proibido por lei.

A chapa ConsCiência CFM, de Palmieri, pediu ontem a impugnação da eleição pela propaganda irregular e por discrepância entre o número de votos e votantes em todo o país. O conselho informou que o pedido foi enviado à Comissão Nacional Eleitoral e “a resposta será encaminhada à chapa ainda antes da homologação das eleições”.

O site com a apuração informa que a eleição contou com 408.748 votantes, ou 75,2% do total de eleitores habilitados. Mas na soma dos votos recebidos pelos conselhos regionais de todo o país, o número chegou a 424.689 — quase 16 mil a mais que a quantidade de médicos aptos, alega a chapa.

“Precisamos entender ao que se refere essa discrepância nos votos para saber o quando reflete nas eleições de São Paulo e nos demais conselhos regionais”, afirmou Palmieri.

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