Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 12 de dezembro de 2022
O Irã anunciou que enforcou em praça pública um jovem de 23 anos, a segunda execução ligada aos recentes protestos contra o governo. Majidreza Rahnavard foi morto na manhã dessa segunda-feira (12) na cidade de Mashhad, disse o Judiciário.
Um tribunal o condenou por “inimizade contra Deus” depois de descobrir que ele havia esfaqueado até a morte dois membros da Força de Resistência Basij, um grupo paramilitar.
Rahnavard foi enforcado apenas 23 dias após sua prisão. Grupos de direitos humanos alertaram que os manifestantes estão sendo condenados à morte sem o devido processo legal. Sua família não sabia que ele seria executado, de acordo com o coletivo ativista de oposição 1500tasvir.
O grupo tuitou que a família recebeu um telefonema de um funcionário do governo às 7h, no horário local (0h no horário de Brasília-DF), dizendo: “Matamos seu filho e enterramos seu corpo no cemitério Behesht-e Reza”.
A agência de notícias do Judiciário Mizan disse que Rahnavard foi enforcado “na presença de um grupo de cidadãos de Mashhadi” e postou várias fotos, supostamente mostrando a execução.
Mahmood Amiry-Moghaddam, diretor da ONG Iran Human Rights, com sede na Noruega, disse no Twitter que a sentença de Rahnavard foi baseada em “confissões obtidas sob coação, após um processo flagrantemente injusto e um julgamento espetaculoso”.
“Este crime deve ter sérias consequências para a República Islâmica”, disse ele, acrescentando que há “sério risco de execução em massa de manifestantes”.
Os protestos liderados por mulheres contra o sistema clerical do Irã foram desencadeados pela morte sob custódia de Mahsa Amini, uma mulher de 22 anos detida pela polícia moral em 13 de setembro por supostamente usar seu hijab, ou lenço na cabeça, “indevidamente”.
Eles se espalharam por 161 cidades em todas as 31 Províncias e são vistos como um dos mais sérios desafios para a República Islâmica desde a revolução de 1979.
Os líderes do Irã afirmaram que os protestos são “distúrbios” instigados por inimigos estrangeiros do país. No entanto, a esmagadora maioria dos manifestantes está desarmada e é pacífica.
Um vídeo transmitido pela TV estatal após sua prisão em 19 de novembro mostrou Rahnavard com os olhos vendados e o braço esquerdo engessado. Na filmagem, ele disse que não negou ter atacado os membros do Basij, mas não se lembrava dos detalhes, porque estava em estado de espírito certo alterado.
Ativistas dizem que a mídia estatal iraniana costuma transmitir confissões falsas de detidos que foram coagidos por meio de tortura e outros maus-tratos.
A primeira execução de um manifestante ocorreu na semana passada, gerando críticas internacionais. Mohsen Shekari, de 23 anos, foi condenado por “inimizade contra Deus” depois de ter atacado um membro do Basij com um facão em Teerã.
Mizan havia relatado anteriormente que foi acusado de esfaquear até a morte dois membros do Basij em uma rua em Mashhad em 17 de novembro. O Basij é uma força voluntária frequentemente enviada pelas autoridades iranianas para reprimir a dissidência.
A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, disse que seus colegas da União Europeia lançariam um novo pacote de sanções contra os responsáveis pelas execuções, incluindo o Corpo de Guardas da Revolução Islâmica e aqueles que filmaram “confissões forçadas”.
Kasra Naji, do serviço de notícias em persa da BBC, diz que não está claro se as execuções ajudarão a acabar com os protestos que estão varrendo o país ou jogarão lenha na fogueira.
Mashhad foi palco de uma manifestação antigovernamental na noite de domingo (11), enquanto as pessoas gritavam “Mártir do país Majidreza Rahnavard” em um vídeo aparentemente filmado no túmulo do rapaz na segunda-feira.
Até agora, pelo menos 488 manifestantes foram mortos pelas forças de segurança e outros 18.259 foram detidos, de acordo com a Agência de Notícias de Ativistas de Direitos Humanos, que também relatou a morte de 62 funcionários de segurança.