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Provável futuro presidente da Câmara dos Deputados se equilibra entre os partidos de Lula e Bolsonaro

Considerado “metódico” e “organizado” pelos colegas, Motta caiu nas graças de Lira (PP-AL) pelo perfil visto como agregador. (Foto: Alex Ferreira/Agência Câmara)

Os deputados Hugo Motta (Republicanos-PB) e Arthur Lira (PP-AL) chegaram juntos a Brasília, em 2011, embalados por um traço comum na política: um sobrenome de uma oligarquia e um bom trânsito entre os colegas, características que os colocavam em uma posição de destaque para caminhar rumo ao topo do poder. Treze anos depois, a trajetória foi cumprida, e Lira, presidente da Câmara, deverá passar o cargo em fevereiro para Motta, seu aliado fiel que reuniu o apoio de bancadas que somam quase 500 dos 513 integrantes da Casa.

A correria de Motta de uma reunião a outra para virar um jogo que tentava ser vencido pelo líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA), melhor amigo de Lira, remete aos seus primeiros passos na Casa. Eleito na época como o deputado mais jovem do Brasil, aos 21 anos e com 86.150 votos, ele precisou cumprir uma promessa feita à mãe, meses antes, ao se lançar candidato: deveria concluir no primeiro mandato os estudos em Medicina, já iniciados. Logo no dia da posse, teve que deixar a Casa para ir à faculdade.

A agenda compartilhada entre plenário, sala de aula e hospitais ainda se estendeu por dois anos, quando se formou e desistiu de exercer a carreira na área da saúde em prol da vida política — ofício no qual a família já tinha ampla tradição na Paraíba. Por lá, o clã se alterna há mais de um século no comando de Patos, com 103 mil habitantes e a 303 quilômetros de João Pessoa. O medo de Ilanna Motta, mãe do deputado e ex-prefeita da cidade, e do pai, Nabor Wanderley, atual mandatário, era que o filho enveredasse na trilha parlamentar sem ter uma formação.

A precisão da Medicina ajudou a formar o político. Considerado “metódico” e “organizado” pelos colegas, Motta caiu nas graças de Lira (PP-AL) pelo perfil visto como agregador. As conversas que vinham ganhando força nos bastidores chegaram a outro patamar em 1º de setembro, quando cumpria uma agenda eleitoral no interior da Paraíba e recebeu um telefonema do deputado Marcos Pereira (SP), presidente do Republicanos, com uma convocação para que estivesse no dia seguinte em Brasília.

Roteiro comum nesse tipo de articulação, uma reunião a portas fechadas já havia selado o destino de Motta, que desembarcou na capital federal e foi avisado que o aliado estava abrindo mão da disputa em favor dele. O líder do Republicanos já entrou na corrida com o status de novo favorito e foi levado por Pereira para uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não criou barreiras, mas ficou surpreso com a pouca idade do deputado — aos 34 anos, poderá ser o presidente mais jovem da Câmara. Motta ligou para os pais e informou que suspenderia, momentaneamente, os planos de ser candidato ao Senado em 2026.

“Tête-à-tête”

Desde então, Motta precisou recorrer ao “tête-à-tête” com todos os deputados, para os quais passou a ligar diretamente com o objetivo de ouvir as demandas e reforçar a necessidade de ter os votos. Entre agendas na Paraíba e Brasília, o parlamentar só marca compromissos após se exercitar nas primeiras horas da manhã. Enquanto malha na academia, fica com o celular na mão, respondendo mensagens e atendendo ligações de seus colegas. Durante o dia, costuma adiar o almoço, porque pula de reunião em reunião. De um tempo para cá, perdeu 22 quilos, resultado também de um tratamento com Mounjaro — remédio que se tornou febre entre a classe política.

Em conversas com parlamentares, o maior desafio de Motta é se equilibrar em meio a diferentes interesses. Alguns deputados têm pedido cargos em comissões e na Câmara. Sem se comprometer, o parlamentar diz que esse acerto precisa ser feito com os líderes.

Há, porém, um ponto solto mais delicado para o candidato à presidência da Casa conseguir amarrar. Ao mesmo tempo que condena a ofensiva golpista que culminou no 8 de janeiro, o que agrada os governistas, não fecha completamente as portas para o projeto que defende a anistia aos envolvidos nos atos antidemocráticos, o que soa bem aos ouvidos bolsonaristas.

Essa dualidade causa incômodo em parte do PT, mas os parlamentares mais alinhados lembram de episódios em que a intervenção de Motta ajudou o Palácio do Planalto.  As informações são do jornal O Globo.

 

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